A
FORMAÇÃO DO ESTADO EGÍPCIO
(5000/3000 a.C.)
O
Egito está situado no nordeste
da África, entre os desertos
de Saara e da Núbia. É
cortado pelo rio Nilo no sentido sul-norte,
formando duas regiões distintas:
o Vale, estreita faixa de terra cultivável,
apertada entre desertos, denominada
Alto Egito; o Delta, em forma de leque,
com maior extensão de terras
aráveis, pastos e pântanos,
denominado Baixo Egito.
Por
volta do quinto milênio antes
de Cristo, com o progressivo ressecamento
do Saara, bandos de caçadores
e coletores de alimentos se fixaram
às margens do Nilo. Iniciaram
o cultivo de plantas (trigo, cevada,
linho) e a domesticação
de animais (bois, porcos e carneiros),
favorecidos pelas inundações
notavelmente regulares e ricas em
húmus do rio.
Os
grupos humanos constituíam-se
em clãs, que adotavam um animal
ou uma planta como entidade protetora
o Tótem. A cerca de 4 000 a.
C., as aldeias de agricultores passaram
a se agrupar, visando a um melhor
aproveitamento das águas do
rio, formando os -nomos-, primeiras
aglomerações urbanas.
Desenvolveu-se um trabalho coletivo
de construção de reservatórios
de água, canais de irrigação
e secamento de pântanos. A agricultura
passou a gerar excedentes, utilizados
nas trocas entre os nomos. Os egípcios
aproveitavam também a riqueza
mineral da região, extraindo
granito, basalto e pedra calcárea
das montanhas que margeiam o vale.
Os
nomos eram independentes entre si
e dirigidos pelos nomarcas que exerciam
ao mesmo tempo a função
de rei, juiz e chefe militar. Gradualmente,
os nomos foram se reunindo em dois
reinos, um no Delta, Baixo Egito,
e outro no Vale, Alto Egito, que mais
tarde irão constituir um só
Império. Nesse período
anterior à unificação,
os egípcios já haviam
criado a escrita hierográfica
e um calendário solar, baseado
no aparecimento da estrela Sírius,
dividido em 12 meses de 30 dias cada,
mais cinco no final do ano.
Os
antigos habitantes atribuíam
a unificação do país,
que ocorreu por volta de 3 000 a.C.,
a um personagem lendário, Menés,
rei do Baixo Egito, que teria conquistado
o Alto Egito e formado um só
reino com capital em Mênfis.
Segundo a crença, o responsável
pela unificação era
considerado sobre-humano, verdadeiro
deus a reinar sobre o Alto e o Baixo
Egito e o primeiro -faraó-
(rei-deus egípcios).
Ora,
isso não pode ser comprovado
arqueologicamente. A unificação
decorreu da necessidade de uma direção
centralizada para o melhor controle
das enchentes do rio, que tanto podiam
trazer a fartura das colheitas, como
a destruição das aldeias
e das plantações. De
todo modo, a crença serviu
para divinizar os governantes que
se utilizaram muito bem dela para
se impor à população
e manter um domínio direto
sobre todas as terras do Egito. Recebendo
impostos e serviços dos camponeses
das aldeias, que cultivavam as terras,
os faraós acumularam grande
soma de poder e de riqueza.
PERÍODO
DINÁSTICO
Com
a unificação dos nomos
em um único Estado, iniciou-se
o período dinástico
da história do Egito, que se
divide em três eras principais
o Antigo Império, o Médio
Império e o Novo Império
-separados por períodos intermediários
em que a autoridade faraônica
decaiu, trazendo anarquia e descentralização.
O
Antigo Império, entre 2 700
e 2 200 a.C., foi a época em
que o poder absoluto dos faraós
atingiu o auge, principalmente durante
a IV Dinastia, dos faraós Quéops,
Quéfren e Miquerinos, que mandaram
construir as enormes pirâmides
(sepulcros) da planície de
Gizé, perto da capital, Mênfis.
O
Médio Império, com capital
em Tebas, aproximadamente de 2 000
a. C., a 1 700 a.C., foi uma época
de expansão territorial, de
progressos técnicos nos canais
de irrigação e de exploração
de minérios na região
do Sinai. A mando do faraó
Amenemá I, da XII Dinastia,
foi construída uma grande represa
para armazenamento das águas,
que ficou conhecida como lago Méris
ou Faium. No período intermediário
que se seguiu, houve aumento do poder
dos -nomarcas - rebelião de
camponeses e escravos e ocupação
do Delta pelos hicsos, povo de origem
asiática, iniciando um período
que durou cerca de um século
e meio.
O
Novo Império começa
com a expulsão dos hicsos por
volta de 1 580 a.C., e marcou o ponto
culminante do país como potência
política. Os faraós
do Novo Império, destacando-se
Tutmés II e Ramsés II,
deram início a uma política
externa expansionista, com a conquista
da Núbia (ao sul), da Síria,
da Fenícia e da Palestina,
formando um Império que chegava
até o Eufrates.
Seguiu-se
um período denominado Baixo
Império, de sucessivas invasões
por povos estrangeiros: assírios
(671 a.c.), persas (525 a.C.), macedônios
(332 a.C.) e romanos (30 a.C.) que
liquidaram o Império Egípcios,
uma civilização que
perdurou por cerca de 35 séculos
(3 500 anos).
O
RIO NILO E A ECONOMIA DO EGITO ANTIGO
O
rio Nilo exerceu importância
fundamental na economia do Egito,
oferecendo água eterra cultivável
a uma região situada em pleno
deserto. Mas era preciso utilizar
a inundação, distribuir
a água eqüitativamente,
aumentar a superfície irrigada
e drenar pântanos. Isso foi
feito a partir dos nomos, num trabalho
coletivo que envolvia a população
de várias aldeias.
O
grande rio fornecia a alimentação,
a maior parte da riqueza e determinava
a distribuição do trabalho
das massas camponesas nas aldeias.
Durante a Inundação
(jul /out), com os campos alagados,
os homens transportavam pedras para
as obras de construção
dos faraós, escavavam poços
e trabalhavam nas atividades artesanais.
Na Vazante (nov / fev), com o reaparecimento
da terra cultivável, captavam
as águas e semeavam. Com a
Estiagem (mar / jun), colhiam e debulhavam
os cereais. A alimentação
era complementada pela pesca e pela
caça realizada nos pântanos
do delta do Nilo. A agricultura produzia
cevada, trigo, legumes, frutas, uvas
e linho.
As
atividades artesanais, de artigos
destinados ao consumo da população,
eram realizadas nas oficinas das aldeias.
Desenvolviam-se em função
das matérias primas e dos produtos
agrícolas oferecidos pelo rio:
tijolos e vasilhames fabricados com
a argila úmida das margens;
vinho, pão, cerveja e objetos
de couro; fiação e tecelagem
do linho; utilização
do papiro para a produção
de cordas, redes, papel e barcos.
O Delta era o principal centro pecuário
e vinícola.
O
artesanato de luxo, de consumo da
aristocracia, de alta especialização
e qualificação excepcional,
ouriversaria, metalurgia, fabricação
de vasos de pedra dura ou de alabastro,
faiança, móveis, tecidos
finos, concentrava-se em oficinas
mais importantes, pertencentes ao
faraó e ao templo. A cidade
de Mênfis possuía a melhor
metalurgia.
Os
funcionários do Faraó
eram responsáveis pela circulação
dos produtos entre as diversas regiões
do país e pela organização
do trabalho de mineração
e das pedreiras, exploradas através
de expedições ocasionais.
O
pequeno comércio local trocava
produto por produto; em transações
maiores usavam-se pesos de metal.
O grande comércio externo,
por terra ou por mar, era realizado
com as ilhas de Creta e Chipre, com
a Fenícia e com a costa da
Somália, para a importação
de madeira para a construção
naval, prata, estanho, cerâmica
de luxo, lápis-lazúli.
Organizava-se através de grandes
expedições ordenadas
pelo Faraó, mobilizando mercadores,
funcionários e soldados.
O
Faraó, através de seus
funcionários, controlava diretamente
todas as atividades econômicas,
proprietário que era das terras
do Egito: planejava as obras de irrigação,
a construção de tempos,
pirâmides e palácios;
fiscalizava a produção
agrícola e artesanal; organizava
o comércio e a exploração
das minas; distribuía o excedente;
cobra os impostos dos camponeses,
usados para sustentar o Estado. O
Palácio e o tempo dos deuses
eram o centro da acumulação
da riqueza.
Autores:
Fábio Costa Pedro e Olga M.
A. Fonseca Coulon.