Descobrimento do Brasil |
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Outra
questão colocada pelo historiador trata do momento em que
a população começou a se pensar como diferente
de seus antecessores. Esse sentimento da diferença do colonizador
surge somente na segunda metade do século XVlll, como desdobramento
de uma evolução natural à formação
histórica do Brasil, onde a população, primeiro
luso-brasileira, vai se sentindo menos lusa e mais brasileira até
se sentir somente brasileira.
Nesses 500 anos que nos separam da expedição cabralina, é importante restabelecer o verdadeiro significado histórico da viagem de Cabral, reduzindo sua dimensão, ainda superestimada na história do Brasil. Em abril de 1500, Cabral apenas chegou em terras ocidentais e a partir daí, a intenção de Portugal sempre foi a de criar uma colônia, e não uma nação.
A viagem de Cabral - uma esquadra apenas secundária para coroa portuguesa, de caráter subsidiário à expedição de Vasco da Gama nas Índias - não significou Descobrimento e nem deve ser vista como iniciadora da colonização. Esta, começou de fato, somente por volta de 1532, com a expedição de Martim Afonso de Sousa, que além de ter fundado o primeiro núcleo de colonização - a vila de São Vicente - , trouxe para colônia, as primeiras mudas de cana-de-açúcar, inaugurando o primeiro engenho, no processo de consolidação do Antigo Sistema Colonial.
Controvérsias sobre o Descobrimento do Brasil
Quatro
pontos acerca do Descobrimento têm sido objeto de debate:
1) a intencionalidade ou casualidade do evento; 2) o local onde
a frota fundeou (ancorou); 3) a anterioridade de outros navegadores
em relação a Cabral; 4) a origem do nome Brasil.
1- A discussão sobre a intencionalidade ou casualidade do
Descobrimento resultou do notável desvio da esquadra para
oeste (comparativamente com a rota seguida por Vasco da Gama). Hoje,
porém, poucos defendem a tese da casualidade.
A ausência de tempestades durante o percurso, a não-influência de correntes marítimas no itinerário seguido, a grande experiência náutica dos comandantes, o interesse de Portugal em confirmar a existência de terras naquela área após a assinatura do Tratado de Tordesilhas, a política de segredo adotada por D. Manuel em relação às potências marítimas emergentes França e Inglaterra tudo aponta na direção da intencionalidade do Descobrimento.
2- Quanto à controvérsia sobre Cabral ter fundeado a sua frota diante da atual cidade de Porto Seguro, ou não, hoje é ponto pacífico que o local exato da ancoragem foi a Baía Cabrália, situada mais ao norte. Ademais, a dupla linha de recifes que se ergue à frente de Porto Seguro inviabiliza a outra hipótese.
3- Sobre a anterioridade de Cabral em chegar ao Brasil, sabe-se com certeza que o espanhol Vicente Pinzón costeou o litoral entre o Ceará e o Pará, tendo descoberto a foz do Amazonas em janeiro de 1500. Mas esse fato é politicamente irrelevante, já que o Brasil (ou melhor, o terço oriental de seu território atual) fora atribuído à Coroa Portuguesa desde 1494, pelo Tratado de Tordesilhas. De vez em quando, volta também à baila o livro Esmeraldo de Situ Orbis, escrito por Duarte Pacheco Pereira em 1505, no qual o autor se atribui uma pretensa viagem ao Brasil em 1498; mas essa afirmação carece de qualquer base mais séria.
4- Finalmente, a questão do nome da terra descoberta. A expedição colonizadora de Gaspar de Lemos, da qual participou o piloto florentino Américo Vespúcio, concluiu acertadamente que um litoral tão extenso não podia pertencer a uma mera ilha. Daí a substituição do nome inicial por Terra de Santa Cruz. Quanto à denominação Brasil, já era encontrada, com grafias diversas, em muitos mapas medievais, que a atribuíam a uma ilha imaginária situada no Ocidente. Todavia, essa antiga referência não parece ter influenciado os colonizadores portugueses, mais diretamente impressionados com o vermelho (cor de brasa) da madeira tintorial que aqui começaram a explorar: o pau-brasil. Esta, portanto, deve ser a origem verdadeira do nome do nosso país.
Mesmo após a descoberta de uma potencial área de exploração, Portugal ainda mantinha seu foco no comércio com as Índias, visto que as especiarias da região eram muito apreciadas. No Brasil, passaram a explorar unicamente o pau-brasil, uma árvore possuidora de uma madeira de tom avermelhado muito comercializada no velho continente. Para a exploração do pau-brasil, os portugueses usavam o trabalho indígena por meio da política do escambo: os colonizadores davam insignificantes presentes (espelhos, apitos, etc.) em troca do trabalho indígena.
A partir
de 1530, após a expedição de Martin Afonso
de Souza, Portugal passou a se interessar mais pelo Brasil, visto
as potencialidades de exploração. Além disso,
muitos piratas estrangeiros roubavam ilegalmente o pau-brasil, crescendo
também a ameaça de uma ocupação estrangeira
definitiva. Assim, a metrópole decidiu, de fato, colonizar
o Brasil, resultando na experiência do plantio de cana-de-açúcar
e do surgimento do sistema de capitanias hereditárias.
Fonte: Objetivo | Historia Net |