Descobrimento do Brasil
 

Pedro Alvares Cabral

O comando da frota foi confiado a Pedro Álvares de Gouveia, fidalgo português de 32 anos, descendente de uma família ilustre cujos antepassados haviam-se distinguido nas guerras de Portugal. Por ser filho segundogênito, Pedro Álvares possuía o sobrenome de sua mãe, Isabel de Gouveia, e não do pai, Fernão Cabral. Mais tarde, quando seu irmão mais velho faleceu sem descendentes, mudou seu nome para Pedro Álvares Cabral. Mas é dessa última forma que iremos designá-lo, para facilitar a leitura do presente texto.

Cabral não tinha nenhuma experiência de navegação, embora possuísse algum conhecimento de guerra terrestre. Mas a maioria dos comandantes de navio eram navegadores de grande reputação. Basta citar Bartolomeu Dias (o descobridor do Cabo das Tormentas), seu irmão Diogo Dias e Nicolau Coelho (que acompanhou Vasco da Gama em sua viagem às Índias). A expedição compreendia cerca de 1500 homens, entre tripulantes e soldados, além de 16 religiosos.

Segundo Fernando Novais, (professor aposentado do Departamento de História da USP e professor do Instituto de Economia da Unicamp) afirma que não houve Descobrimento do Brasil, porque o Brasil não existia nem estava encoberto. Naquele momento surgiram apenas as bases da colonização portuguesa, que é a base da nossa formação. "A história do Brasil é essencialmente a de uma colônia que se transformou numa nação. Logo, a colonização é a base de nossa história e nesse sentido Cabral é importante."

Outra questão colocada pelo historiador trata do momento em que a população começou a se pensar como diferente de seus antecessores. Esse sentimento da diferença do colonizador surge somente na segunda metade do século XVlll, como desdobramento de uma evolução natural à formação histórica do Brasil, onde a população, primeiro luso-brasileira, vai se sentindo menos lusa e mais brasileira até se sentir somente brasileira.

Nesses 500 anos que nos separam da expedição cabralina, é importante restabelecer o verdadeiro significado histórico da viagem de Cabral, reduzindo sua dimensão, ainda superestimada na história do Brasil. Em abril de 1500, Cabral apenas chegou em terras ocidentais e a partir daí, a intenção de Portugal sempre foi a de criar uma colônia, e não uma nação.

A viagem de Cabral - uma esquadra apenas secundária para coroa portuguesa, de caráter subsidiário à expedição de Vasco da Gama nas Índias - não significou Descobrimento e nem deve ser vista como iniciadora da colonização. Esta, começou de fato, somente por volta de 1532, com a expedição de Martim Afonso de Sousa, que além de ter fundado o primeiro núcleo de colonização - a vila de São Vicente - , trouxe para colônia, as primeiras mudas de cana-de-açúcar, inaugurando o primeiro engenho, no processo de consolidação do Antigo Sistema Colonial.

Controvérsias sobre o Descobrimento do Brasil

Quatro pontos acerca do Descobrimento têm sido objeto de debate:
1) a intencionalidade ou casualidade do evento; 2) o local onde a frota fundeou (ancorou); 3) a anterioridade de outros navegadores em relação a Cabral; 4) a origem do nome “Brasil”.
1- A discussão sobre a intencionalidade ou casualidade do Descobrimento resultou do notável desvio da esquadra para oeste (comparativamente com a rota seguida por Vasco da Gama). Hoje, porém, poucos defendem a tese da casualidade.

A ausência de tempestades durante o percurso, a não-influência de correntes marítimas no itinerário seguido, a grande experiência náutica dos comandantes, o interesse de Portugal em confirmar a existência de terras naquela área após a assinatura do Tratado de Tordesilhas, a “política de segredo” adotada por D. Manuel em relação às potências marítimas emergentes – França e Inglaterra – tudo aponta na direção da intencionalidade do Descobrimento.

2- Quanto à controvérsia sobre Cabral ter fundeado a sua frota diante da atual cidade de Porto Seguro, ou não, hoje é ponto pacífico que o local exato da ancoragem foi a Baía Cabrália, situada mais ao norte. Ademais, a dupla linha de recifes que se ergue à frente de Porto Seguro inviabiliza a outra hipótese.

3- Sobre a anterioridade de Cabral em chegar ao Brasil, sabe-se com certeza que o espanhol Vicente Pinzón costeou o litoral entre o Ceará e o Pará, tendo descoberto a foz do Amazonas em janeiro de 1500. Mas esse fato é politicamente irrelevante, já que o Brasil (ou melhor, o terço oriental de seu território atual) fora atribuído à Coroa Portuguesa desde 1494, pelo Tratado de Tordesilhas. De vez em quando, volta também à baila o livro Esmeraldo de Situ Orbis, escrito por Duarte Pacheco Pereira em 1505, no qual o autor se atribui uma pretensa viagem ao Brasil em 1498; mas essa afirmação carece de qualquer base mais séria.

4- Finalmente, a questão do nome da terra descoberta. A expedição colonizadora de Gaspar de Lemos, da qual participou o piloto florentino Américo Vespúcio, concluiu acertadamente que um litoral tão extenso não podia pertencer a uma mera ilha. Daí a substituição do nome inicial por Terra de Santa Cruz. Quanto à denominação “Brasil”, já era encontrada, com grafias diversas, em muitos mapas medievais, que a atribuíam a uma ilha imaginária situada no Ocidente. Todavia, essa antiga referência não parece ter influenciado os colonizadores portugueses, mais diretamente impressionados com o vermelho (“cor de brasa”) da madeira tintorial que aqui começaram a explorar: o pau-brasil. Esta, portanto, deve ser a origem verdadeira do nome do nosso país.

Mesmo após a descoberta de uma potencial área de exploração, Portugal ainda mantinha seu foco no comércio com as Índias, visto que as especiarias da região eram muito apreciadas. No Brasil, passaram a explorar unicamente o pau-brasil, uma árvore possuidora de uma madeira de tom avermelhado muito comercializada no velho continente. Para a exploração do pau-brasil, os portugueses usavam o trabalho indígena por meio da política do escambo: os colonizadores davam insignificantes presentes (espelhos, apitos, etc.) em troca do trabalho indígena.

A partir de 1530, após a expedição de Martin Afonso de Souza, Portugal passou a se interessar mais pelo Brasil, visto as potencialidades de exploração. Além disso, muitos piratas estrangeiros roubavam ilegalmente o pau-brasil, crescendo também a ameaça de uma ocupação estrangeira definitiva. Assim, a metrópole decidiu, de fato, colonizar o Brasil, resultando na experiência do plantio de cana-de-açúcar e do surgimento do sistema de capitanias hereditárias.

Fonte: Objetivo | Historia Net |

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