O Conhecimento em si

O Conhecimento em Si Mesmo é Poder

Esse pequeno aforismo aparece em Meditationes Sacrae (1597), um enigmático trabalho de Francis Bacon (1561-1626), advogado, político, ensaísta, e co-inventor do método científico. A frase parece óbvia, especialmente em nossa era de informação. Porém, corremos o risco de entender mal o que Bacon está querendo dizer com "poder", que não é "vantagem pessoal ou política", mas "controle da natureza".

Bacon estava lutando contra a ciência e a filosofia estéreis de sua época. O debate científico, preso à metafísica aristotélica e infestado de minúcias e sofismas, não produzia muita coisa, exceto motivos para mais debate. Enquanto isso, as artes mecânicas, que os teóricos consideravam ignóbeis, tinham feito consistentes e rápidos avanços. A pólvora, a imprensa de Gutenberg e a bússola não foram superadas por nenhum progresso nos domínios mais elevados.

Avaliando a situação, Bacon concluiu que o conhecimento pode ser frutífero somente se a tecnologia e a filosofia estiverem unidas. Em vez de debater pormenores de matéria e forma, os cientistas deviam observar diretamente a natureza, esboçar conclusões e empregar ferramentas práticas para testá-las. Em outras palavras, a ciência devia ser baseada na indução e na experimentação, não na metafísica e na especulação.

Bacon certamente não foi o primeiro a sugerir o método experimental ou "científico". E apesar de toda sua pregação, ele mesmo produziu muito poucos experimentos significativos. Não obstante, seus contemporâneos ficaram impressionados, e as maiores mentes científicas do século dezessete, incluindo Newton, citaram seu trabalho como inspiração direta. Ademais, o caráter colaborativo da pesquisa científica, de 1600 até o presente, deve muito à sua insistência de que comunidades, em vez de gênios isolados, são responsáveis pelo verdadeiro progresso científico e, em conseqüência, "poder" sobre a natureza.

Por outro lado, além de suas próprias falhas práticas, as teorias de Bacon deixam alguma coisa a desejar. Ele descartou a ciência especulativa, desprezando o papel da hipótese, que ele via como infundado e, portanto, estéril. Todo conhecimento verdadeiro, afirmava ele, deriva da observação e do experimento, e qualquer tipo de suposição prévia só vai provavelmente distorcer a percepção e a interpretação. Porém, sem hipóteses não existem experimentos controlados, que são a essência do método científico moderno. Bacon pensava que o mundo era essencialmente caótico, e que por isso era um erro abordar a natureza com a suposição de leis uniformes. Contudo, a ciência avançou principalmente supondo que o mundo é ordenado, que existem regras e padrões simples inscritos na natureza.

Assim, Bacon trouxe muitas coisas certas e muitas coisas erradas, mas no geral ele foi muito melhor ao criticar as velhas idéias do que ao antever as novas. Como conseqüência, sua reputação passou por altos e baixos. A opinião corrente é divergente; uns aplaudem seu trabalho pioneiro na filosofia científica, enquanto outros censuram sua doutrina de que "conhecimento é poder" por inclinar a ciência em direção à exploração da natureza. Poder, segundo esses últimos críticos, se tornou um fim em si mesmo, resultando em materialismo e alienação. O próprio Bacon pensava que os valores sociais e a moralidade sempre dirigiriam e restringiriam os avanços tecnológicos. E é nesse aspecto que ele estava mais enganado.

Fonte: sabio.org

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