Em
caso de não se tomar nenhuma
medida, a cifra subiria ainda mais
e a escassez de água poderia
afetar até três bilhões
de pessoas. No que diz respeito
à questão sanitária,
os especialistas do Hadley calculam
que, em 2080, 290 milhões
de pessoas mais que no presente
estariam expostas a contrair malária.
Com as emissões estabilizadas,
esse número poderia baixar
para 175 milhões de pessoas.
A
contenção das emissões
estabiliza o clima e os impactos
a longo prazo, exceção
feita à elevação
do nível do mar. O problema
se deve ao fato de que o calor demora
a penetrar nas profundidades das
águas oceânicas e seu
efeito, uma vez desencadeado o aquecimento,
se mantém durante muito tempo.
Por isso, a elevação
do nível de mar, causada
pela expansão da água
e do degelo continental e ártico
é o aspecto em que menos
incidência tem a atenuação
da mudança climática.
As previsões indicam que
o mar subirá quarenta centímetros
até 2080 se não forem
tomadas medidas para conter as emissões
de CO2, e 27 cm no melhor dos casos.
A elevação do nível
do mar chegará a quase um
metro dentro de dois séculos.
Continuando
com as previsões da Universidade
de East Anglia, na península
ibérica as temperaturas subirão
0,8°C a 0,9°C até
2020, no caso mais favorável
de emissões, e quase 6°C,
no caso mais desfavorável,
até 2080.
O relatório global GEO-2000,
realizado pelo Programa Meio-Ambiental
da ONU sobre a situação
ambiental do planeta no começo
do terceiro milênio, chegou
à conclusão de que
"o atual curso das coisas é
insustentável, e já
não é possível
adiar as soluções
por mais tempo". O relatório
alertou especialmente para o problema
emergente do nitrogênio: "Estamos
fertilizando a terra em escala global
de forma experimental e descontrolada".
Uma das organizações
ambientalistas mais importantes
do mundo, a Worldwide Fund (WWF),
insistiu no problema denunciando
que a liberação de
nitrogênio no ambiente pode
alterar tanto o crescimento quanto
a composição das espécies,
e reduzir sua diversidade. Essa
mesma organização
está há anos aplicando
o que chama de "Índice
Planeta Vivo", que é
uma combinação de
três indicadores diferentes:
a superfície da área
florestal, as populações
de espécies de água
doce e as populações
de espécies marinhas. Com
esses indicadores, constatou que,
entre 1970 e 1995, o planeta havia
perdido um terço de sua riqueza.
Em
2001, apresentou-se um relatório
do Comitê Intergovernamental
de Mudança Climática
(IPCC) da ONU, elaborado por setecentos
cientistas, sobre os efeitos do
aquecimento terrestre ao longo do
século XXI: um documento
de mais de mil páginas que
foi considerado uma das análises
mais completas sobre os efeitos
da mudança climática
no mundo. Segundo o relatório,
a mudança climática,
causada principalmente por gases
poluentes emitidos por indústrias
e veículos, consiste num
aumento das temperaturas em escala
global. Isso provocaria, por um
lado, a evaporação
de mais água dos oceanos
e, em conseqüência, o
aumento das precipitações.
Por outro lado, aceleraria a fusão
dos gelos polares, o que faria subir
o nível do mar. Tudo isso
redundaria em mudanças nas
correntes de circulação
oceânica, reguladoras do clima
mundial, e nas correntes de circulação
atmosférica. O resultado
final afetaria todas as regiões
do mundo, embora nem sempre no mesmo
sentido.
No
relatório do IPCC falou-se
dos principais efeitos globais da
mudança climática:
aumento da temperatura, aumento
das precipitações,
extinção das espécies
e deslocamento da população
mundial. Na Europa, haveria mais
seca nos países mediterrâneos,
mais produção agrícola
no norte do continente e menos no
sul, mudanças no turismo
devido às ondas de calor
no verão e à redução
de nevadas no inverno, bem como
o desaparecimento de metade das
geleiras de montanha em um século.
Na África, a redução
das precipitações
seria causa de menores safras, agravaria
os déficits de água
potável e provocaria mais
desertificação. Não
bastasse tudo isso, a elevação
do nível do mar causaria,
além da erosão costeira,
grandes deslocamentos de populações
no oeste, no sudeste e no Egito.
O continente asiático seria
açoitado por mais ciclones
e precipitações torrenciais
no sul, mais catástrofes
naturais, menor segurança
alimentar, ainda que melhorassem
as safras no norte. Na Oceania,
a elevação de ou cinco
milímetros anuais no nível
do mar levaria à redução
da superfície habitável
nas ilhas do Pacífico, ao
deslocamento de populações,
à destruição
dos recifes e à modificação
das áreas de pesca.
A
América do Norte sofreria
o aumento dos furacões na
costa atlântica, a redução
das pradarias e o avanço
de doenças infecciosas como
a malária. A América
Latina teria mais precipitações
catastróficas, mais secas,
mais cólera e malária.
No pólos, o derretimento
parcial da área de gelo provocaria
mudanças na circulação
oceânica que afetariam o clima
de todos os continentes.
Em
2006, aconteceu em Curitiba a 8ª
Conferência das Partes da
Convenção sobre Diversidade
Biológica da ONU (COP-8).
Nela, foram debatidas questões
como o "Desafio Micronésia",
que consiste em aumentar a existência
terrestre de pequenos países
do Pacífico que lutam contra
o aquecimento global e a degradação
ambiental, os quais podem fazer
com que os territórios das
Ilhas Marshall, Estados Federados
da Micronésia, Guam, Mariana
do Norte e Palau em boa parte desapareçam.
Palau, por exemplo, é um
minipaís de vinte mil habitantes
na Micronésia, em pleno oceano
Pacífico e pode, por razão
do aquecimento global e da degradação
ambiental - e os problemas que eles
acarretam -, ter sua existência
ameaçada, podendo, literalmente,
ser apagado do mapa. O aumento do
nível do mar pode colocar
boa parte do pequeno país
embaixo d'água. Além
de destruir o país de vinte
mil pessoas, o aquecimento global
pode causar a extinção
de 442 espécies endêmicas
na Micronésia. São
os pássaros, répteis
e peixes de água doce em
perigo.
Na Bolívia, por outro lado,
o aquecimento global tem destruído
a mais alta pista de esqui do mundo
- 5.300 metros acima do nível
do mar -, nos Andes bolivianos.
As geleiras do lugar estão
derretendo tão rapidamente
que o local utilizado para prática
de esqui pode desaparecer dentro
de cinco anos por razão das
mudanças climáticas.
Segundo Jaime Argollo, do Instituto
de Investigação Geológica
da Universidade Mayor de San Andres,
em La Paz, o aquecimento global
pode se transformar em um gigantesco
problema, pois "a água
das geleiras é fonte de água
potável e também é
usada para gerar energia elétrica"
para a cidade de La Paz.
Em
2006, a revista Science publicou
uma série de artigos nos
quais se apontou que os últimos
estudos responsabilizam o efeito
estufa pela aceleração
do derretimento das geleiras da
Groenlândia e da Antártida,
e que o mar pode subir até
seis metros em 2100. Se o mar ganhar
seis metros de água, mais
de meio bilhão de pessoas
teria de fugir da orla marítima
mundial para o interior mais elevado.
CONSCIÊNCIA
ECOLÓGICA
A
consciência ecológica
da humanidade despertou tardiamente
de forma global. Em meados da década
de 1970, a preocupação
com o estado da Terra fez surgir
uma série de movimentos civis
que combateram o modo de vida da
sociedade industrial expansionista
e insustentável. Em 1970,
Edward Golsdmith fundou em Londres
a revista The Ecologist. Um ano
depois, nasceu o Greenpeace, na
Colúmbia Britânica
(Canadá), com ações
diretas não-violentas contra
os testes nucleares norte-americanos
no Alasca. Em 1972, Goldsmith publicou
o Manifesto pela sobrevivência,
que abriu caminho para a criação
de partidos ambientalistas nos países
desenvolvidos. Em 1974, o francês
René Dumont concorreu nas
eleições legislativas
francesas como candidato ambientalista
e conseguiu 1,5% de votos. Essa
década foi marcada pelo escapamento
de dioxinas da fábrica química
de Seveso (Itália), em 1976;
pela maré negra nas costas
da Bretanha provocada pelo naufrágio
do navio Amoco Cádiz, em
1978; e pelo acidente na central
nuclear americana de Three Mile
Island, em 1979, que provocou o
fechamento das instalações
e a evacuação de mais
de duzentas mil pessoas.
Na
década de 1980, o movimento
verde liderou as manifestações
antinucleares na Europa e se consolidou
como alternativa política
na Europa. Foram anos de desastres
ecológicos. Foram denunciados
os efeitos da chuva ácida
nas florestas da Europa e causou
grande impacto a morte de três
mil pessoas pelo escapamento de
gases venenosos na filial indiana
da Union Carbide, em Bhopal, em
1984. Os acidentes continuaram com
a explosão no reator 4 da
central nuclear soviética
de Chernobil, em 1986, a maior catástrofe
nuclear da história, com
trinta mil óbitos causados
pelos efeitos da radioatividade
nos dez anos seguintes, e milhões
de afetados. O remate trágico
da década foi, em 1989, a
pior maré negra da história,
causada pelo naufrágio do
petroleiro Exxon Valdez nas águas
do Alasca.
A
consciência ecológica
chegou às Nações
Unidas em 1987. A Comissão
do Meio Ambiente e Desenvolvimento
da ONU, presidida pela norueguesa
Gro Harlem Brundtland, falou pela
primeira vez em desenvolvimento
sustentável, argumentando
que progresso econômico e
a proteção ambiental
eram compatíveis. Na Cúpula
Mundial das Nações
Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável,
realizada no Rio de Janeiro, em
1992 - conhecida como Eco 92 -,
reuniram-se governantes, cientistas
e ativistas pedindo medidas para
a redução das emissões
de gases de efeito estufa e a proteção
da biodiversidade do planeta. Tudo
isso culminou, em 1997, com a assinatura
do Protocolo de Kyoto pelos países
industrializados. Estabeleceu-se
que o conjunto dos países
desenvolvidos deveria reduzir em
média, entre 2008 e 2012,
5% de suas emissões com relação
às de 1990. A II Cúpula
da Terra se realizou em 2002 na
cidade sul-africana de Johannesburgo,
com poucos avanços.