Breve
história da educação .
De
maneira geral, pode-se dizer que
educação é o processo pelo qual
são transmitidos ao indivíduo os
conhecimentos e atitudes necessários
para que ele tenha condições de
integrar-se à sociedade.
De
certa forma, pode-se falar de educação
em relação a certos animais, que
ensinam os filhotes recém-nascidos
a se adaptarem ao meio mais rapidamente
do que o permitiriam seus condicionamentos
genéticos. Mas é na espécie humana
que se efetua um longo e complexo
processo educativo, sem o qual o
indivíduo não poderia sobreviver
numa sociedade que transformou radicalmente
as condições naturais de vida e
que exige dele comportamentos muito
superiores àqueles que são determinados
pelos instintos.
A
aprendizagem elementar é oferecida
pela família. A instituição familiar
pode apresentar formas muito diversas,
de acordo com a sociedade em que
esteja inserida, e a educação no
seio familiar também é encaminhada
de formas muito distintas. É possível
dizer, porém, que, em quantas sociedades
humanas existam ou tenham existido,
o núcleo familiar sempre foi o primeiro
passo, de incalculável importância
em direção à socialização da criança,
ou seja, na transformação de um
ser que ao nascer é regulado pelos
instintos em membro participante
de uma comunidade.
A
relação familiar se reduz, em alguns
casos, ao contato entre mãe e filho,
mas, em geral, a família forma um
grupo mais complexo, e pode chegar
a ser muito numeroso. Habitualmente,
o pai, a mãe e os demais parentes
desempenham papéis diferentes, e
a missão educadora de cada um fica
contida dentro de certos limites.
A
família ensina à criança o papel
sexual, masculino ou feminino, que
deverá exercer no futuro; indica
a ela os sentimentos que deve alimentar,
como o respeito e a submissão aos
mais velhos e a proteção em relação
aos irmãos menores; leva-a a assimilar
o sistema de valores compartilhado
por seus parentes; ensina-lhe algumas
técnicas, que variam segundo a sociedade
em que se ache inserida, necessárias
para se proteger no ambiente circundante.
Com a família, a criança aprende
os rudimentos de uma linguagem que
estruturará seus conhecimentos e
sua maneira de pensar.
O grupo de iguais é uma formação
social que muito contribui para
o processo socializador da criança.
Os jogos, as tarefas que realiza
junto com outras crianças de sua
idade e a troca de experiências
que as crianças adquiriram individualmente
produzem um efeito socializador
importantíssimo, não apenas nas
sociedades simples, mas também nas
complexas formações sociais do mundo
contemporâneo. A criança que não
tem amigos manifestará, ao tornar-se
adulta, outras carências sociais,
já que lhe faltam algumas experiências
fundamentais para o desenvolvimento
da personalidade.
Nas sociedades mais simples, a aquisição
de conhecimentos não exige estabelecimentos
especialmente destinados às tarefas
educativas. A aprendizagem se realiza
naturalmente, pois a criança participa,
de forma cada vez mais ativa, nos
trabalhos comuns. Conforme cresce,
o papel que desempenha na comunidade
torna-se mais importante e definido.
As instituições educacionais que
exercem maior influência sobre a
formação costumam estar vinculadas
às práticas religiosas, às crenças
mágicas e ao mundo mítico. Estreitamente
ligados às atividades educativas
estão os ritos de iniciação.
A
divisão de trabalho é característica
de sociedades que atingiram um grau
mínimo de desenvolvimento. A primeira
divisão de trabalho é determinada
pelo sexo: não há sociedade primitiva
em que homens e mulheres desempenhem
exatamente as mesmas funções. A
especialização dos membros da comunidade
na execução de cada tarefa produtiva
impõe aprendizados específicos.
O adulto que sabe realizar determinado
trabalho adota a criança, ou o jovem,
como ajudante ou aprendiz, que colabora
na realização do trabalho, ao mesmo
tempo que aprende a fazê-lo. A questão
educativa ultrapassa, nesses casos,
o ambiente estritamente familiar.
Começa nessas sociedades a diferenciação
social e nelas já existem em embrião
as instituições de transmissão de
saber que prefiguram o que viria
a ser, na civilização, a escola.
É
principalmente na escola que se
realiza a socialização intelectual
da criança. A começar por sua própria
estrutura espacial, a sala de aula
é um modelo que mostra à criança
como é a sociedade em que ela vai
crescer e passar a vida. O lugar
da autoridade é ocupado pelo professor,
encarregado de fazer cumprir certas
regras. A igualdade de condições
em que se encontram os alunos é
quebrada pelo aparecimento de líderes
e por certa hierarquia que se estabelece
entre eles, decorrente de valores
desejáveis ou indesejáveis que aos
poucos se instalam entre eles. A
retribuição do esforço, ou o castigo
pela inatividade, se dá pela atribuição
de notas. As felicitações ou reprimendas
distribuídas pelo educador; o espírito
de competitividade intelectual ou
física, que surge e é estimulado
nos estudos como na prática de esportes;
os horários rígidos de trabalho
e recreação; e outros elementos
próprios da rotina escolar transmitem
à criança os valores pelos
quais se rege o mundo dos adultos.
Evolução
das atividades educativas
Admite-se
que, nas sociedades primitivas,
formadas pelos remotos antepassados
do homem contemporâneo, o
processo educativo seria muito semelhante
ao que os antropólogos de
campo puderam estudar nas sociedades
isoladas do mundo contemporâneo.
A educação consistia,
muito provavelmente, num processo
sem solução de continuidade
que, iniciado no interior do núcleo
familiar, prosseguia nas atividades
desempenhadas pelo grupo social,
conforme as potencialidades físicas
e intelectuais da criança
fossem se desenvolvendo. Os sucessivos
grupos educadores - o grupo de crianças,
que compartilham e opõem
suas experiências individuais;
o grupo de adultos formado para
realizar um trabalho coletivo (caça,
agricultura, coleta de frutos silvestres
ou cultivados, construção
de canoas) - se encarregariam de
transmitir ao indivíduo o
saber necessário à
sobrevivência. Desde pequena,
a criança participaria da
atividade coletiva, primeiro executando
pequenas tarefas elementares de
ajuda e logo aprendendo, progressivamente,
os trabalhos mais complicados. Apenas
o campo do sagrado, dos ritos e
das crenças, juntamente com
o das manifestações
artísticas, exigiriam, ocasionalmente,
uma especialização
educativa, ou um trabalho exclusivo
e qualitativamente distinto de todos
os demais. Esse saber seria transmitido
no interior de pequenos grupos,
orientados pelo sacerdote, pelo
xamã ou pelo conselho de
anciãos.
A
especialização de
tarefas dentro da sociedade, à
medida que esta se tornou mais complexa,
levou à criação
de sistemas de aprendizagem diferenciados.
Mas foi sobretudo a cristalização
na sociedade da divisão em
classes sociais com interesses próprios
e antagônicos que consagrou
a educação como um
dos meios mais eficazes para perenizar,
ao longo das gerações,
a divisão interna da sociedade.
As castas sacerdotais e de servos
surgidas nas primeiras grandes civilizações
do Oriente Médio se baseavam
com certeza no monopólio
consciente da educação
especializada, de tal forma que
os conhecimentos acumulados socialmente
se transmitiam apenas a uma pequena
minoria de iniciados, que se perpetuava,
dessa maneira, no poder. Os antigos
egípcios, as civilizações
mesopotâmicas e muitas culturas
pré-colombianas adotaram
esse sistema educativo. A invenção
da escrita não fez senão
reforçar os privilégios
da minoria que tinha acesso ao saber.
Isso
era indispensável para que
a sociedade pudesse regular as atividades
agrícolas, contabilizar e
repartir a colheita, legislar, manter
o favor dos deuses e organizar exércitos
para preservar a ordem interna e
defender o país contra inimigos
externos.
É
bastante conhecido o sistema educativo
da Grécia clássica.
No século V a.C., ocorreu
uma verdadeira revolução,
quando o trabalho educador dos sofistas
começou a difundir, baseado
no método dialético,
o ceticismo e a análise crítica
das matérias em que os jovens
atenienses eram educados. Sócrates
transformou-se, para sempre, num
modelo de educador. A civilização
clássica greco-romana deve
sua importância histórica
a um sistema educativo que, mesmo
sendo privilégio de uma minoria,
favorecia o pensamento crítico
individual e se distanciava do modelo
de casta fechada, orientado para
a manutenção do saber
como algo secreto, oferecido pelos
deuses, que havia caracterizado
as civilizações anteriores.
Seria difícil determinar
qual foi a causa e qual o efeito;
mas a implantação
do sistema educativo liberal e o
florescimento do pensamento e das
artes são historicamente
coincidentes.
Desde
o início de sua expansão,
o cristianismo tentou adequar sua
concepção de mundo
à que predominava no Império
Romano, na ocasião de seu
surgimento. Muitos autores adeptos
da nova religião desenvolveram,
na teoria e na prática, novas
idéias educativas que buscavam
moldar o homem segundo a cosmovisão
cristã. Mas a civilização
greco-romana afundava irremediavelmente
no obscurantismo medieval, e nessa
fase histórica não
sobreviveu nenhum dos projetos educativos
dos doutores da igreja.
A
Idade Média começou
assim que se arruinou o sistema
político, econômico,
social e cultural que havia unificado
o mundo mediterrâneo e a Europa
ocidental sob o domínio de
Roma. Embora o cristianismo, já
dominante no decadente Império
Romano, tenha se imposto finalmente
aos diversos povos bárbaros
que dominaram a Europa, os mecanismos
de transmissão de conhecimento
foram interrompidos, em grande parte,
ao se desorganizar a vida intelectual.
Apenas a igreja, e dentro dela as
ordens monásticas, conseguiram
preservar a cultura do mundo antigo,
ainda que de forma parcial e com
significados e conteúdos
freqüentemente distorcidos.
Boa parte da herança cultural
greco-romana caiu no esquecimento
ou desapareceu. Dessa maneira, perdeu-se
o vínculo com a tradição
cultural mais rica que até
então a humanidade havia
produzido, o que representou um
retrocesso.
Na
Idade Média européia,
o ensino foi ministrado praticamente
na clandestinidade. Em todo esse
período existiu um restrito
número de escolas, em mosteiros
e sedes episcopais, e nelas se educavam
pouquíssimos alunos, dentro
de um sistema de pensamento muito
fechado, estático e dominado
pela religião. Isso deu origem
a uma casta letrada, que transmitia
o saber quase que como segredo,
conforme ocorria nas antigas civilizações
do Oriente Médio. Raramente
os alunos pertenciam à nobreza
guerreira, para a qual as artes
e as letras constituíam,
na verdade, um adorno inútil.
Em contrapartida, as escolas se
destinavam a preparar sacerdotes
para a igreja ou a instruir indivíduos
para o reduzido corpo de funcionários
imperial, que recebeu considerável
impulso quando Carlos Magno tentou
restabelecer a unidade política
européia.
Os
últimos séculos da
Idade Média experimentaram
um prodigioso desenvolvimento social
e cultural. A partir do século
XI, a extraordinária expansão
das universidades mudou radicalmente
as condições de ensino
no continente. A universidade medieval
continuava dominada por um sistema
ideológico rígido,
tradicional, baseado fundamentalmente
na teologia, mas levava em si o
germe de uma incontrolável
expansão do saber. Quando
o pensamento aristotélico
foi incorporado ao acervo cultural
dominante, após uma ausência
de muitos séculos, a semente
do racionalismo ficou firmemente
implantada na instituição
medieval de ensino. O espírito
crítico tinha que se desenvolver
até assumir sua forma moderna
no Renascimento.
O
grande impulso que a cultura européia
recebeu nos últimos séculos
da Idade Média desaguou no
pré-Renascimento. As universidades
viveram um período áureo,
o estudo do grego clássico
recebeu um impulso decisivo e, em
Florença, surgiu a primeira
academia platônica, que foi
seguida de outras nas principais
cidades italianas. As novas correntes
de pensamento, criadas pelos humanistas,
impregnaram uma Europa otimista
e plena de vitalidade, disposta
a substituir o rigor técnico
medieval por outra forma de cultura.
A educação retomou
os antigos ideais clássicos
que defendiam a conjunção
harmoniosa do homem com a natureza.
Os grandes pensadores eram também,
em sua maior parte, mestres solicitados,
e percorriam incansavelmente a Europa,
difundindo idéias. O continente
parecia viver em estado de debate
constante, como se as distâncias
tivessem sido infinitamente encurtadas.
Mas o período otimista da
primeira fase do Renascimento duraria
muito poucos anos.
A
Reforma religiosa, acontecimento
plenamente identificado com o espírito
renascentista, acarretou uma reação
católica que representou
um verdadeiro retrocesso. Costuma-se
dar como sua data inicial o ano
de 1517, em que Martinho Lutero
expôs em público, pela
primeira vez, sua contestação
à doutrina eclesiástica
das indulgências. A partir
desse ano, tudo foi diferente. A
Europa mergulhou numa guerra civil
permanente que esgotaria os recursos
do continente por um século
e meio, e levantaram-se duras fronteiras
ideológicas cujo papel era
dificultar a difusão do pensamento.
As lutas religiosas não tardaram
a paralisar o otimismo renascentista,
e as instituições
eclesiásticas e estatais
começaram a se assustar.
A liberdade de que tinham desfrutado
os educadores na época imediatamente
anterior foi cortada pela raiz,
e no mundo católico teve
início uma profunda decadência
das universidades, que se tornaram
baluartes do pensamento teológico
medieval. Não teve melhor
sorte a filosofia na maioria dos
países protestantes, nos
quais também não se
toleraram dissidências ideológicas
até o momento em que, em
alguns deles, foi preciso apelar
à tolerância para frear
a guerra civil. As pequenas ilhas
de permissividade tornaram-se berço
das principais idéias inovadoras
que surgiriam na Europa.
Os
efeitos da Reforma na educação
se fizeram sentir a longo prazo.
Talvez o mais importante deles tenha
sido a extensão do ensino
primário. Efetivamente, para
se ter acesso direto às Sagradas
Escrituras, era preciso saber ler.
O próprio Lutero traduziu
a Bíblia para o alemão,
para estimular sua leitura. O latim,
idioma internacional dos humanistas,
foi logo relegado a segundo plano
perante o florescimento dos idiomas
nacionais. Todo o movimento da Reforma,
associado ao advento da imprensa,
favoreceu a alfabetização
de setores cada vez mais amplos
da população, que
tiveram acesso aos livros, cada
vez mais baratos.
Com
a Contra-Reforma, os países
católicos ganharam novas
instituições de educação:
os colégios. Os jesuítas,
seguidos de perto por outras congregações
e ordens religiosas, criaram um
modelo de instituição
educacional destinada aos filhos
das classes privilegiadas, para
o que se desenvolveram métodos
educacionais de grande refinamento
psicológico. A Igreja Católica,
por sua vez, começou a organizar
de forma rigorosa a formação
de sacerdotes, criando para isso
os seminários.
A
extensão da educação,
apoiada em novos recursos técnicos,
entre os quais teve importância
fundamental a imprensa, foi intensa
ao longo da modernidade européia.
Os aparelhos de estado absorviam
um número cada vez maior
de funcionários letrados.
Reis, governadores, bispos e autoridades
municipais precisavam cercar-se
de um grande staff de escrivãos,
juristas e técnicos. As novas
formas de vida obrigavam cada vez
mais pessoas a educarem-se. Já
não se podia capitanear um
galeão sem saber decifrar
as cartas náuticas, nem manipular
os instrumentos de precisão
ou escrever o diário de bordo
sem conhecer as letras. Da mesma
maneira, não se podia governar
uma cidade ou dirigir um exército
sem saber ler, interpretar e redigir
documentos, nem levantar uma fortificação
sem recorrer a cálculos de
balística. O ideal da educação
renascentista tinha sido o de formar
no homem um espírito livre,
capaz de dominar todos os campos
do conhecimento, desde a arte até
a ciência. Mas logo se viu
que isso seria impossível.
O desenvolvimento das técnicas,
adiantando-se muitas vezes ao das
ciências puras, impôs
a especialização dos
saberes, num mundo em que a arquitetura,
a arte da guerra, a navegação
e as finanças ficavam cada
vez mais em mãos de um grupo
reduzido de especialistas.
Em
meados do século XVII, a
Paz de Vestfália pôs
fim ao longo período de lutas
religiosas que havia dividido a
Europa em grupos irreconciliáveis.
Um novo espírito surgiu e
encontrou terreno propício
nas camadas mais cultas da sociedade,
primeiro na Inglaterra e logo depois
no continente. A religião,
que ainda era oficialmente determinante
nos sistemas políticos, perdeu
o controle sobre as ideologias,
e as grandes filosofias da época
se constituíram fora de sua
influência.
O
empirismo e o racionalismo ingleses
tiveram grande repercussão
entre os intelectuais que elaboraram
a Enciclopédia francesa,
obra-prima da literatura didática.
O século XVIII europeu, que
foi chamado o século da educação,
caracterizou-se pelo surgimento
de um novo espírito otimista,
baseado na idéia de progresso
e na constatação de
que o espírito científico
estava levando a humanidade a uma
situação sem retorno,
que se delineava como crescimento
qualitativo e quantitativo que invalidava
todas as ideologias anteriores.
Pela primeira vez na história
se acreditava ser possível
conseguir, graças ao progresso
da ciência e ao avanço
da razão, o aperfeiçoamento
do espírito humano e a melhora
das condições materiais
até que estas se aproximassem
de algo semelhante ao paraíso
terrestre, o que invalidaria para
sempre as promessas da religião.
Se
o otimismo dos iluministas parece
excessivo, é certo que o
homem contemporâneo, embora
tenha demonstrado que sua natureza
não se aproxima tão
facilmente da perfeição,
como acreditavam os pensadores do
século XVIII, é produto
das idéias e convicções
daqueles pensadores e vive num mundo
que resulta diretamente dessas idéias.
O
Iluminismo foi um grande movimento
ideológico e cultural do
qual participaram as maiores inteligências
da época, de Jean-Jacques
Rousseau a Immanuel Kant. Esse movimento
ganhou corpo ao mesmo tempo que
uma onda revolucionária transformava
a vida material do homem europeu:
a revolução industrial,
econômica, científica
e cultural. A revolução
política não foi senão
um componente a mais e uma resultante
das anteriores, e abriu o caminho
para pôr em prática
na sociedade do século XIX
as idéias dominantes do século
anterior.
Os
iluministas tiveram plena consciência
da necessidade de reformar e expandir
a educação a todos
os níveis para chegar a um
mundo mais sábio e mais justo.
A tese segundo a qual o homem é
bom por natureza mas uma educação
equivocada o perverte foi celebrizada
por Rousseau, que propôs um
novo modelo de educação,
baseado no desenvolvimento dos dons
naturais da criança, que
outros autores retomaram e que ainda
hoje continua a exercer influência
na pedagogia. Outros grandes iluministas,
ideologicamente bastante divergentes
de Rousseau, expuseram suas próprias
teorias pedagógicas, muitas
das quais seriam postas em prática
no século seguinte, uma vez
eliminados os obstáculos
que as instituições
sociais e políticas do Antigo
Regime impunham à transformação
do ensino.
O
primeiro programa organizado de
escolarização universal
foi criado pelo tcheco Comenius,
que em meados do século XVII
preconizou uma escola elementar
à qual todos - ricos, pobres,
homens e mulheres - teriam acesso
e a partir da qual seriam selecionados
os indivíduos mais capacitados
a cursar os ensinos superiores.
A democratização do
ensino, no entanto, tardaria ainda
vários séculos para
se tornar realidade.
Uma
das aspirações dos
governos burgueses europeus do século
XIX foi a de levar toda a população
infantil à escola. Esse processo
se deu muito lentamente. Antes disso,
foram postos em prática projetos
de instituições de
ensino secundário, priorização
compreensível num sistema
dominado pelas classes abastadas,
preocupadas com o futuro de seus
filhos e com a perpetuação
do sistema. Mas a pressão
da classe trabalhadora e também
a necessidade de qualificar mão-de-obra
para as atividades industriais cada
vez mais exigentes motivaram a progressiva
democratização do
ensino. Dessa forma, no final do
século XIX, a maior parte
dos países industrializados
tinha conseguido atrair para a escola
quase toda a população
infantil, e a taxa de analfabetismo
tinha sido reduzida drasticamente.
No
século XX, a educação
primária foi levada a grandes
contingentes populacionais em todo
o mundo. Os países latino-americanos,
assim como os que emergiram no meado
do século ao concluir-se
o processo de descolonização,
efetuaram ingentes esforços
no campo da educação,
com o apoio, em muitos casos, de
organizações internacionais
como a UNESCO, e conscientes da
necessidade de diminuir a desvantagem
em relação às
nações mais industrializadas.
Muitos países pobres, no
entanto, nos últimos anos
do século XX, estavam longe
de ver realizada a aspiração
de alfabetizar toda a população.
A explosão demográfica
e o atraso contribuíram para
dificultar ainda mais o esforço
de alfabetização.
Em
conseqüência da democratização
do ensino primário, produziu-se
em todos os países uma maior
demanda pelo ensino médio
e superior, que suscitou, na segunda
metade do século XX, um problema
universal: a universidade, criada
para educar uma minoria seleta,
não dava conta de admitir
a grande quantidade de alunos que
lutavam por chegar às salas
de aula. Outro aspecto do mesmo
problema é o baixo nível
do ensino ministrado por muitas
escolas de nível superior,
em decorrência da massificação.
Os
teóricos da educação
continuaram seu trabalho, aprofundando-se
cada vez mais no estudo da psicologia
infantil e das relações
sociais que se estabelecem na escola,
muitos deles denunciando a dependência
da escola em relação
ao sistema social em que está
imersa, cujos problemas ela tende
a reproduzir. Ao longo do século,
a tendência geral foi favorável
à limitação
do autoritarismo na escola e ao
aumento da liberdade de ação
da criança, para que dê
livre curso a sua criatividade.
Fomentou-se a atividade física
- ginástica, esportes - depois
que se tomou consciência da
importância dessas atividades
para a boa saúde física
da criança, para a formação
de sua personalidade e para o desenvolvimento
da sociabilidade.
Nos
últimos anos do século,
o novo problema com que a educação
se defrontou estava relacionado
às transformações
sofridas pelos meios de comunicação.
Delineou-se uma situação
paradoxal: enquanto a educação
que se oferecia era quase totalmente
baseada no universo literário,
a maior parte das crianças,
feliz ou infelizmente, recebia muito
mais informações por
meios audiovisuais do que impressos.
Embora na década de 1980
alguns países tenham começado
a introduzir nos planos de estudo
escolares as novas tecnologias,
como o uso de computadores, a situação
paradoxal permanecia. Os próprios
educadores estavam formados para
ministrar um ensino baseado em técnicas
pedagógicas e em conteúdos
tradicionais. Já se discutia,
no entanto, a necessidade de incorporar
as novas disciplinas aos currículos
escolares, pois o mercado de trabalho
estava cada vez mais a exigir familiaridade
com a informática em quase
todas as áreas. A generalização
da informática teve conseqüências
importantes para a educação,
especialmente nas áreas profissionalizantes.
Fundamentos
psicológicos, sociológicos
e antropológicos da educação
Existem
vários pontos de contato
entre as ciências da educação
e outras áreas das ciências
humanas, entre as quais a psicologia.
O conhecimento das aptidões
da criança, suas atitudes
perante os fenômenos que fazem
parte de seu universo, sua percepção
desse universo, a maneira como se
dão suas relações
interpessoais e tudo o que se refere
à formação
de sua personalidade e à
aprendizagem são questões
que interessam, ao mesmo tempo,
à psicologia e à pedagogia.
Do
mesmo modo, boa parte dos estudos
propostos pela antropologia e pela
sociologia está encaminhada
para esclarecer a forma que adotam
e a maneira como atuam os diversos
sistemas de aprendizagem e de aculturação
que constituem o alicerce educacional
das sociedades, sejam elas "primitivas",
e nesse caso objeto de estudo da
antropologia, ou "civilizadas",
terreno abordado pela sociologia.
Algumas questões importantes
tratadas pelos sociólogos,
por exemplo, dizem respeito à
influência das mudanças
educacionais na estrutura social,
à relação entre
educação e desenvolvimento
econômico, à forma
como os diversos sistemas educacionais
podem sustentar ou, ao contrário,
derrubar os sistemas de poder, às
disfunções sociais
criadas por novos métodos
de ensino, às resistências
à mudança educacional
por parte dos poderes sociais tradicionais
e a muitos outros temas.
Em
países como o Brasil, de
grandes desigualdades sociais, as
relações entre educação
e as questões psico-sociológicas
são ainda mais visíveis.
A pobreza afasta a criança
da escola, lançando-a prematuramente
e sem qualificação
no mercado de trabalho, aumentando
o contingente de subempregados.
Nos piores casos, apoiada pelo espírito
contestatário próprio
da adolescência, a falta de
escolarização abre
para o jovem o caminho do crime.
À desagregação
familiar nas camadas mais pobres
da população se segue
freqüentemente a evasão
escolar, pela necessidade de trabalhar
ou pela simples falta de incentivo.
Fonte:
Pesquisas Barsa
©
Editorial Barsa Planeta, Inc. Todos
os direitos reservados.