O
perfil dos professores brasileiros:
o que fazem, o que pensam, o que almejam.
A UNESCO no Brasil (Organização das
Nações Unidas para a Educação, a Ciência
e a Cultura), em parceria com o Ministério da Educação
(MEC), Instituto Nacional de Estudos
e Pesquisas Educacionais (INEP), Instituto
Paulo Montenegro e Editora Moderna,
lançaram uma pesquisa que apresenta
um retrato atual dos professores brasileiros
do ensino fundamental e médio, de
escolas públicas e privadas, nas 27
unidades da Federação. A pesquisa,
que contempla características sociais,
econômicas e profissionais, foi construída
a partir de questionários respondidos
por 5.000 docentes, que representam
um universo expandido de 1.698.383
professores,
sendo 82% da rede pública e 18% da
rede privada.
O estudo revela que 81,5% dos professores são mulheres e 18,5% são homens, com idade média
de 38 anos. Também mostra que
um terço dos professores brasileiros se classifica como pobre, 65,5% possuem renda
familiar entre dois e 10 salários
mínimos e 24% entre 10 e 20 salários
mínimos. Apesar da baixa renda, a
maioria dos docentes demonstra satisfação
com sua profissão: quase metade deles
se considera “mais satisfeita agora
do que no início da carreira”.
O estudo considera aspectos que interferem na
identidade profissional, tais como
características relacionadas a sexo,
faixa etária e família, distribuição
geográfica, renda familiar, autoclassificação
social, mobilidade, atuação profissional,
titulação e habilitação assim como
práticas culturais.
Adaptada a partir do estudo realizado
pelo Instituto Internacional de Planeamiento
de La Educación
– IIPE/ UNESCO, em Buenos Aires, reúne,
também, percepções e opiniões dos
professores a respeito de questões
de âmbito social, político e educacional.
A realidade cotidiana em que
vivem
e suas perspectivas e aspirações profissionais
são colocadas ao lado de suas percepções
sobre questões emergentes na sociedade,
tais como comportamento ético, expressões
juvenis, discriminação, criminalidade,
que podem exercer influência sobre seu trabalho.
Os resultados deixam claras as fortes
desigualdades regionais e as diferenças
na situação de professores de escolas
privadas e públicas. De um modo geral,
os professores das
escolas públicas estão em condições
econômicas e sociais bastante inferiores
aos das escolas privadas.
Alguns resultados:
- Família - Dentre as características
individuais dos professores
destaca-se, além da predominância
de mulheres na profissão, o fato
de que a maioria se declara casada
e inserida em famílias constituídas
de acordo com padrões tradicionais.
No entanto, 6,1% apontam para a
composição de novos arranjos familiares.
- Renda - Enquanto 43,5% dos professores
com
renda familiar superior a 10 salários
mínimos trabalham em escolas privadas
e estão situados na região sudeste
(42%), na região nordeste este índice
é de 12,5%.
- Acesso ao computador – O nível de renda dos professores
traz
impacto significativo no acesso
ao computador, já que somente 3% daqueles que recebem salário mínimo têm computador. Do
total dos professores
pesquisados pouco mais da metade
não tem computador em casa e 59,5%
não utilizam correio eletrônico.
- Escolaridade - A maioria dos professores
tem condição de vida melhor que
a de seus pais e um nível de escolaridade
superior ao deles. A pesquisa constata
que cerca de 15% dos pais e das mães
dos docentes
não têm nenhum grau de instrução
e que somente
5,5% dos pais possuem ensino superior completo.
- Formação profissional - Do total de professores 67,5% afirmam
ter concluído o ensino
superior e 32,5% o ensino
médio. A questão da inadequada habilitação
profissional - ter apenas o
ensino médio regular, sem formação
pedagógica, ou o ensino
superior, sem licenciatura - aparece
em todo o Brasil, sendo mais grave nas regiões Norte
e Centro-Oeste, onde cerca de 15%
dos profissionais estão sem a habilitação necessária.
Mais de 4/5 dos
docentes fizeram o ensino fundamental em escolas públicas.
Em relação à prática docente, 58,5%
dos pesquisados, o que representa 971.475 professores, declaram
trabalhar em apenas uma escola e
3% em mais de quatro escolas (48.574
professores)
- Reformas educacionais - Identificam nas reformas
educacionais em curso, especialmente
as decorrentes da LDB, um caminho
para a superação de alguns dos
problemas existentes. São favoráveis
à autonomia da escola, à nova estrutura
do ensino definida pela LDB, aos
Parâmetros Curriculares Nacionais
e à criação do FUNDEF.
- Qualidade do ensino – Os professores discordam com
maior ênfase da proposta de se prolongar
o calendário escolar e a jornada escolar.
Em contrapartida, mais da metade
dos docentes concorda que se estimule a concentração da carga horária
em apenas um estabelecimento. É
relevante o fato de a maioria dos professores acreditar que as comunidades onde atuam
consideram sua escola de bom nível.
Cerca de um quarto deles declarou
acreditar que
essas
comunidades consideram seu estabelecimento
de ensino como um dos melhores da
região.
- Valores sociais - Mais da metade dos professores
dizem ser indiferente com relação
aos grupos sociais e étnicos mais
estigmatizados da sociedade com
exceção aos viciados em drogas.
Chama atenção que o maior número
de indiferente ocorre em relação
aos homossexuais e as pessoas com
aids. Os professores
não desejam ter como vizinhos principalmente:
os viciados em drogas (69%), as
pessoas que foram presas (50%), as prostitutas (42%),
os favelados (27%) e os homossexuais
(21%). As categorias étnicas são
as menos discriminadas. As respostas
dos professores
revelam um certo pessimismo em relação
aos jovens - pelo menos 60% dos
professores consideram que cinco dos valores listados estão se enfraquecendo:
responsabilidade, sentido de família,
seriedade, respeito aos mais velhos,
tolerância. Apenas o
item amor à liberdade é considerado
fortalecido entre os jovens de hoje
(52,5%).
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