Os Sonhos
 

A importância dos Sonhos

Os Sonhos

Sinopse
Esse artigo é a resposta a uma entrevista solicitada por um jornalista por ocasião da edição de uma matéria sobre a importância do sonho na vida das pessoas. Em essência ela trata de iniciativa e empreendedorismo, nos moldes que o Prof. Dr. Fernando Dolabela (talvez a maior autoridade brasileira sobre o assunto) insiste em disseminar pelo nosso país: a formação de uma
mentalidade educacional de formação empreendedora em vez de perpetuarmos os ideais de formar bons funcionários, típicas de países de terceiro mundo.

Contexto
É sabido em todo o mundo que o motor da sociedade de consumo é o empreendedor. Porém pouco se diz que a mentalidade empreendedora pode ser cultivada num povo. Certamente a educação, tanto escolar quanto familiar podem encaminhar ou motivar o indivíduo a buscar realizar seus objetivos. O empreendedorismo hoje não é mais concebido como um dom, pois filhos de empreendedores tornam-se empreendedores mais frequentemente, então é algo que pode ser aprendido ou, sendo mais preciso, pode ser despertado ou preservado, desde que os condicionamentos culturais não se encarreguem de esconde-lo.

 

Entrevista

Qual a importância de sonhar na vida de qualquer pessoa?

Penso que o sonho, aquele que temos dormindo seja uma propriedade do cérebro... Já observei que o meu cachorro sonha. Ele também tem pesadelos.

Mas o sonho no sentido figurado, aquele que chamamos também de devaneio, plano de vida ou fantasia, esse parece ser uma função apenas da mente humana. É sobre esse que vamos falar a seguir.

O sonho parece ser a mais genuína das formas do ser humano expressar seus desejos, anseios, inclinações e motivações. Eu ainda diria, sem conhecer profundamente a origem desse fenômeno, que são os sonhos que movem os seres humanos. Talvez sejam mensagens de Deus, plantadas em nossa mente, que sirvam para nos direcionar na vida, para dar sentido à existência.

Eu não saberia responder qual é a importância de sonhar sem dizer que é tudo. Talvez não sonhar mais seja uma das primeiras evidências de que abandonamos a vida e esperamos a morte. Lembro-me certa vez, conversando com uma tia querida, já aposentada, que completava quase 70 anos, quando lhe propus que aprendesse algo novo e ela disse que não tinha mais idade para isso... Então perguntei: "O que a senhora pretende fazer nos próximos 50 anos então? Esperar a morte?". Você pode pensar que exagerei, mas já se passaram 8 anos e ela está com excelente saúde, porém não faz nada de novo na vida... Não realiza nem busca nada, apenas cumpre sua rotina de esposa, mãe e avó aposentada... Seus olhos não brilham mais, exceto na presença da família e dos netos. Então concluí que sua realização e seu sonho é contemplar e compartilhar das experiências das gerações que se seguiram.

O único problema dessa satisfação é que ela está depositada em outrém! Já vi muitos pais ou mães terem suas vidas abreviadas por não terem suas próprias vidas, seu próprios interesses e suas próprias aprendizagens. Quando um filho ou um neto morre, se afastam do seio da família, sua satisfação vai junto. Esse é um distúrbio muito comum no presente, chamado de "Síndrome do Ninho Vazio", no qual adultos de 40 ou 50 anos de idade efrentam grandes depressões quando seus filhos saem de casa para terem suas próprias vidas.

Não creio que esse deva ser o destino das pessoas. Hoje sou capaz de respeitar isso e de compartilhar desses sentimentos, mas creio que nosso destino possa ser bem maior e mais bem aproveitado. E só conseguimos observar isso quando o indivíduo não deixa de sonhar e desejar.

O que faz uma pessoa conseguir seus sonhos e outra não? O que ela fez de diferente?

A resposta está na própria pergunta: FAZER! Quando as pessoas iniciam sua jornada de buscar realizar seus sonhos e ideais, a grande diferença é FAZER! Há aqueles que se responsabilizam pelos próprios sonhos e buscam conhecimentos, recursos, ajuda, tempo, etc, para realizá-los; e há aqueles que deslocam seus sonhos para um ambiente chamado de fantasia, e se contentam com a idéia de acalentá-los sem fazer nada no mundo real para se aproximarem deles.

Curiosamente, o que mais traz satisfação nem é atingir completamente seus objetivos, caso o destino não permita, mas é lutar e se empenhar em realizá- los. As pessoas mais frustradas não são aquelas que não conseguiram atingir seus objetivos, mas são aquelas que não fizeram absolutamente nada para buscá-los!

Evidentemente existe todo um sistema educacional voltado para preparar autômatos ou funcionários, que desde o início condiciona o indivíduo a desistir de seus sonhos e não o aparelha a planejar e a aprender a fazer. Somos adestrados, como cães a repetir aquilo que outros fizeram antes de nós, não somos estimulados a criar, apesar de sermos considerados o povo mais criativo e flexível do planeta.

Qual é o segredo da transformação em realidade ?

O segredo é muito simples: FAZER, AGIR, PLANEJAR, APRENDER, etc. O segundo segredo, como propõe o mestre do empreendedorismo brasileiro, Fernando Dolabela, é reformular a educação e treinar professores desde a escola básica a estimularem seus alunos a buscarem seus ideais e sonhos.

Ele propõe, de uma forma muito simples e poderosa, que os professores deveriam fazer duas perguntas às suas crianças:

"Qual é o seu sonho?" (resgata o sentido da existência)

"O que você pretende fazer a partir de agora para realizá-lo?" (resgata a dimensão afetiva e motivacional da realização: o impulso necessário).

Evidentemente os professores devem ser treinados para saberem lidar com as respostas, às vezes, contundentes, principalmente para crianças vítimas de violência.

O que acontece quando sonhamos de olhos abertos e na maioria das vezes ficamos frustrados por não realiza-los?

A resposta já está na própria pergunta... Não buscar nossos sonhos é como viver as vidas de outras pessoas! Você desejaria abrir mão daquilo que gosta para conviver com o que outras pessoas gostam? Eis a frustração.

Mas num mundo em que a força motriz é o consumo, a pergunta é: como ter coragem para ser diferente? Então aqui está uma resposta que vale ouro: "Para gastar dinheiro você deve ser como os outros... Para ganhar dinheiro você deve ser diferente dos outros!"

O que os sonhos têm a ver com a felicidade?

Essa pergunta é muito complexa, pois precisaríamos definir o que é felicidade antes? Você sabe o que é? Bem, existe um autor americano chamado Mihaly Csikszentmihalyi que publicou um livro muito interessante sobre o assunto chamado "A Descoberta do Fluxo". Nesse livro ele coloca essa questão do que é a felicidade, que as pessoas tanto perseguem, sem conhecer sua essência... A tal ponto que há quem diga que não encontramos a felicidade quando a buscamos, mas somos visitados por "ela" quando fazemos aquilo que gostamos ou acreditamos. Esse é o primeiro ponto, não devemos confundir felicidade com prazer. Tenho um professor que diz que quando mais necessitamos de prazer, é porque menos satisfação temos; quanto mais satisfeitos estamos, menos necessitamos do prazer.

Bem, voltando ao americano, ele criou um sistema de medição da satisfação avaliando as sensações de bem estar das pessoas em vários momentos do dia escolhidos aleatoriamente. A descoberta impressionante é que as pessoas vivem 3 vezes mais satisfeitas e se sentem melhor nos seus ambientes de trabalho do que em seus momentos de lazer (leia-se prazer)!!!!!!! Você pode compreender o que isso significa? Ele foi mais adiante e descobriu ainda que esses momentos de FLUXO, conforme ele denomina o tempo que permanecemos nesse estado de êxtase ou satisfação, acontecem quando temos desafios de graus elevados compensados por grande habilidade. Caso tenhamos um desafio muito grande e pouca habilidade, isso gera ansiedade. Caso tenhamos pouco desafio e muita habilidade, isso gera tédio. Caso sejamos especialistas ou excelentes em algo e enfrentamos grandes desafios, isso gera os momentos de FLUXO: períodos de grande satisfação. E a satisfação proveniente da habilidade de enfrentar e conquistar desafios é muito mais duradoura que os momentos passageiros de prazer que as pessoas têm quando estão descansando!

As consequências lógicas do que foi exposto acima são que os problemas de vida são responsáveis não somente pelo nosso aprendizado, mas também pela nossa sensação de satisfação! Indo um pouco além, segundo um outro autor americano chamado Paul Stoltz, sabe-se que apenas 25% dos indivíduos vindos das classes A e B chegarão a grandes e importantes posições por mérito próprio! Os outros 75% provêm de classes sociais menos favorecidas, pois desde cedo são expostos a grandes desafios e uma das maiores competências requisitadas atualmente nas empresas é a capacidade de superar obstáculos, também mensurável segundo Stoltz e chamada de Quociente de Adversidade. A boa notícia é que o Q.A.. assim como o Q.E. (Quociente Emocional) que esteve algum tempo na moda da Inteligência Emocional, podem ser desenvolvidos! E para onde retornamos? Para a educação. Creio que já tenhamos muitas fontes a pesquisar e com quem aprender.

Conclusão

As pesquisas sobre o pensamento empreendedor e a iniciativa ainda são muito pouco conhecidas. Apesar disso, há hoje inúmeros multiplicadores desses ideais, buscando na sua divulgação e difusão contribuir para a construção de um povo brasileiro mais responsável e comprometido com as próprias qualidades e sonhos.

Bibliografia
Csikszentmihalyi, Mihaly - A Descoberta do Fluxo - Ed. Rocco
Dolabela, Fernando - A Ponte Mágica - Editora de Cultura
Dolabela, Fernando - O Segredo de Luísa - Editora de Cultura
Stoltz, Paul G. - Desafios e Oportunidades - Editora Campus

Fonte: IDPH (Instituto do Desenvolvimento do Potencial Humano)

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