Perfil
da Igreja Católica
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É a partir do início do século XIX, com a
chegada de diversas ordens e congregações religiosas
e com o apoio do imperador do Brasil às iniciativas escolares
e missionárias, que o catolicismo brasileiro vai lentamente
criando sua “identidade nacional”. Acompanhando o
processo de desenvolvimento agrícola e industrial, surgem
empreendimentos de congregações femininas, hospitais,
escolas e maternidades. E a vida das metrópoles em gestação
começa a perceber uma maior presença da igreja “oficial”
nos rituais cotidianos. Surgem paróquias e seminários,
e o interior do país passa a conhecer novos padres e irmãos
missionários.
Ao mesmo tempo em que, na Europa, a Igreja aprofunda as medidas
do Concílio de Trento, cautelosa diante do modernismo,
do racionalismo e da ameaça aos monarcas aliados dos Estados
Pontifícios, no Brasil a miscigenação das
tradições africanas e indígenas encontra
terreno fértil para produzir um catolicismo de ricas festas
populares e de extremo sincretismo.
Já em fins do século XIX e início do século
XX com a intensa imigração italiana, alemã
e espanhola, as questões “tridentinas” e a
preocupação moral ocuparão o primeiro plano
do ambiente católico nacional, com seu clero nativo bem
estabelecido em muitos centros do país. O crescimento da
influência da Maçonaria, desde o primeiro império,
e de outras denominações religiosas, determinará
uma agenda de medidas expressas em consonância as orientações
do episcopado aos seus padres e fiéis. É com a industrialização
dos grandes centros e as primeiras greves operárias que
a Igreja do Brasil se debruçará sobre as questões
sociais e ideológicas que permearão todo o século
XX. As ideologias do trabalho, o socialismo utópico e o
marxismo serão fonte constante de preocupação
do episcopado, do clero e dos fiéis mais engajados.[2]
A Igreja estruturada em dioceses e paróquias torna-se uma
referência social e territorial em todo o país, alimentando
uma postura constante de participação nas decisões
nacionais e nos debates nos grandes centros. Está presente
em quase toda a nação. Surgem universidades, colégios,
editoras e periódicos. Consolida-se um colégio episcopal
com lideranças formadas em solo pátrio. Nos distintos
períodos da vida republicana, a Igreja será sempre
um vetor de coesão nacional, imprimindo sua faceta na semente
de um “brasilianismo” original. A participação
do laicato já não se restringe mais às Irmandades
Leigas ou Confrarias. O leigo católico é motivado
a participar da vida pública, através de legendas
eleitorais e de associações cívicas e políticas,
que encampam as diretrizes do episcopado nas questões mais
cruciais do debate nacional.[3]
Em meados de 1960, com a eclosão de turbulências
políticas na América Latina, a Igreja Católica
atuará como protagonista em distintas frentes de mobilização
social. Ora legitimando ações políticas dos
governos militares, ora cerrando fileiras com a oposição
destes regimes. O saldo é uma Igreja politizada, que fomentará
o surgimento da teologia da libertação e a conseqüente
divisão do clero brasileiro entre duas esferas de atuação
eclesial.
Uma voltada para o trabalho pastoral, a chamada “opção preferencial pelos pobres”, pautada nas decisões dos colégios episcopais latino americanos, que em sua maioria imprimem uma leitura de mundo próxima da antropologia marxista. Outra esfera, menos influente no período, mas não menos ativa, manterá um discurso e uma prática voltados à dinâmica interna da própria instituição e sustentará uma aguerrida preocupação com a doutrina moral e a liturgia. Definido pelos meios de comunicação sociais e também por muitos militantes progressistas como conservador, este segmento da Igreja terá como protagonista uma pequena parcela do episcopado brasileiro, dentre eles alguns bispos opositores às mudanças pretendidas pelo Concílio Vaticano II, os chamados padres de Campos, diocese fluminense.[4]
Neste terreno de disputas acaloradas nos bastidores da Igreja
brasileira, uma parcela silenciosa do clero e do laicato permanecerá
fiel as orientações de Roma, aprofundando o processo
de laicização das atividades eclesiais e contrapondo-se
ao modelo de organização social e religiosa progressista
das Comunidades Eclesiais de Base (CEB´s), amplamente difundidas
pelo episcopado nacional através de seu “plano pastoral
de conjunto”.
Inspiradas na reflexão proposta pela chamada “Teologia
da Libertação”, e motivadas pela experiência
eclesial latino-americana nas décadas que antecederam o
Concílio Vaticano II, as CEB’S representaram um referencial
no entendimento da dinâmica religiosa a partir de sua esfera
mais visível, a esfera social, e do engajamento leigo nas
estruturas eclesiais. Oriunda das camadas mais pobres da população,
a expansão das comunidades amparou-se na sedimentação
de um discurso de classe e uma plataforma social e política
extremamente transformadora. Frutos desta perspectiva são
a fundação do Partido dos Trabalhadores em 1980
e o surgimento de inúmeros movimentos populares em defesa
da reforma agrária e urbana.[5]
No entanto, a partir da década de 90 um novo tipo de organização
social começou a chamar a atenção dos pesquisadores
do fenômeno religioso. Movimento dos Focolares, Comunhão
e Libertação, Schöenstatt, Caminho Neocatecumenal,
Regnum Chisti.... Nomes estranhos que passam a significar uma
grande novidade dentro da Igreja. E alimentados pela “renovação
do Espírito”, movimentos de inspiração
carismática também brotam em todo o país:
Canção Nova, Toca de Assis, Comunidade Shalom, Comunidade
da Aliança...
Diferenciando-se
dos católicos tradicionalistas contrários ao Vaticano
II e suas mudanças litúrgicas e conceituais, e opondo-se
frontalmente ao liberalismo moral e ao engajamento político
promovido pelos segmentos mais progressistas do clero, os movimentos
eclesiais apresentam em comum a proposta de uma vivência
da fé cotidiana e simples, de fácil acesso ao leigo
instruído, em que a santificação no mundo,
“sem fugir dele”, são os elementos centrais
de sua ascese cotidiana.
Apesar
dos percalços das últimas décadas, a Igreja
Católica no Brasil segue ocupando o posto de maior grupo
religioso do país, com cerca de 155 milhões de fiéis
declarados, ou 74 por cento da população. Trazida
por missionários que acompanharam os primeiros colonizadores
portugueses no início do século XVI, tornou-se desde
então a religião majoritária.Pode-se dizer
que é a instituição com maior presença
política, social e cultural da história do país.
CNBB
A
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) foi criada
em 14 de outubro de 1952, na cidade do Rio de Janeiro. Em 1977,
transferiu-se para a capital da república, Brasília
(DF). Pertencem à CNBB todos os Bispos Diocesanos do Brasil
e os que são a eles equiparados pelo direito, como os Bispos
Coadjutores, os Bispos Auxiliares e outros Bispos titulares que
exercem no mesmo território algum encargo especial, confiado
pela Santa Sé ou pela Conferência dos Bispos.
O organismo tem por missão e finalidade aprofundar a comunhão
dos Bispos brasileiros através do estudo dos assuntos de
interesse comum da Igreja no país, visando o aprimoramento
de sua ação pastoral e de seu ministério.
Além disso, cumpre e delibera em matérias de sua
competência, manifestando solicitude pela Igreja Universal,
através da comunhão e colaboração
com a Santa Sé e com as outras Conferências Episcopais.
Através de sua estrutura e do relacionamento com a Nuciatura
Apostólica, estabelece canais de articulação
com os poderes públicos e civis.
A Conferência Nacional do Bispos do Brasil organiza-se através de uma Presidência, uma Assembléia Geral, de Conselhos Regionais e um Conselho Permanente. Fazem parte também desta estrutura Comissões Episcopais Específicas, Organismos Vinculados e diversas Assessorias Nacionais. Maiores informações em www.cnbb.org.br
*Doutor em Psicologia e professor de História do Seminário Propedêutico Nossa Senhora Assunção
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[1]Dados
e estatísticas disponíveis em http://pt.wikipedia.org/wiki/P%C3%A1gina_principal.
Outras informações in: www.acidigital.com e www.pime.org.br/missaojovem/mjhistoria.htm
[2] Sobre o desenvolvimento do catolicismo no Brasil, consultar:
BENEDETTI, Luiz Roberto. Templo, Praça, Coração:
A Articulação do Campo Religioso Católico.
Tese de Doutoramento em sociologia. São Paulo, FFLCH-USP,
1988.
CAMARGO, Candido Procópio Ferreira. Católicos, Protestantes,
Espíritas. Petrópolis, Vozes, 1973.
MAINWARING, Scott. Igreja Católica e Política no
Brasil: 1916-1985. São Paulo, Brasiliense, 1989.
PRANDI, Reginaldo. Catolicismo e Família: Transformações
de uma ideologia. São Paulo, Brasiliense e Cebrap, 1975.
_________________. Um sopro do Espírito. São Paulo,
EDUSP e FAPESP, 1997.
TORRES-LONDOÑO, Fernando. Paróquia e Comunidade
no Brasil: perspectiva histórica. São Paulo, Paulus,
1997.
[3] AZZI, Riolando. Ordens e Congregações na formação
social brasileira. In.: Temas Brasileiros, nº 02: A Igreja
Católica no Brasil, Fé e Transformações.(edição
especial da revista História Viva). São Paulo, Duetto,
2005, pg. 61.
[4] Sobre o desenvolvimento do tradicionalismo católico
e a polêmica dos padres de Campos, consultar:
AZZI, Riolando. A Neocristandade: um projeto restaurador. História
do pensamento católico no Brasil, vol. 5. São Paulo,
Paulus, 1994.
CHALET, Jean-Anne. Lefebvre, o Bispo Rebelde. Rio de Janeiro,
DIFEL, 1977.
DIP, Ricardo Henry. Monseigneur Marcel Lefebvre: rebelde ou católico?
São Paulo, O Expresso, 1977.
PINTO, Sobral. Teologia da Libertação: o materialismo
marxista na teologia espiritualista. Rio de Janeiro, Editora Lidador,
1984.
[5] Sobre CEB’S consultar:
BOFF, Leonardo. Novas Fronteiras da Igreja: o futuro de um povo
a caminho. Campinas, Verus, 2004.
_____________. Eclesiogênese. As CEBS reinventam a Igreja.
Petrópolis,Vozes, 1976.
GUTIÉRREZ, Gustavo. Beber no próprio poço:
Itinerário espiritual de um povo. Petrópolis, Vozes,
1984.
PINTO, Sobral. Op. Cit.
Leia
mais:
Breve História da Arquidiocese de São Paulo