Perfil da Igreja Católica
   
Breve perfil da Igreja Católica no Brasil

por Cesar Vinicius Alves Ornelas*

O catolicismo, religião predominante no Brasil desde a colonização portuguesa, adquiriu cores próprias num país onde a maioria da população tem origem não européia, oriunda de etnias indígenas ou africanas. É sabido que em alguns períodos da colonização a grande massa de habitantes caboclos, negros e cafuzos professavam uma religiosidade diversa de seus pares europeus, alimentada pela mistura de raças na colônia e pela distância dos grandes centros de cultura católica da Europa. Apesar do empenho constante de religiosos jesuítas e franciscanos, presentes no país desde 1500, o catolicismo no Brasil sobreviveu graças ao laicato nativo, em Irmandades, Confrarias, Associações e Ordens Menores ou Leigas.

Os primeiros religiosos a desenbarcarem em solo brasileiro foram frades franciscanos e capuchinhos. As missões indígenas apareceriam apenas quarenta anos depois, em 1549 através de seis padres da Companhia de Jesus (jesuítas). Outras ordens e congregações seguiram o exemplo: carmelitas descalços chegaram em 1580, as missões dos beneditinos tiveram início em 1581, as dos franciscanos em 1584, as dos oratorianos em 1611, as dos mercedários em 1640, as dos capuchinhos em 1642. Durante o século XVI e o século XVII, a legislação buscou certo equilíbrio entre Governo central e Igreja, tentando administrar os conflitos entre missionários, colonos e índios. [1]

Até meados do século XVIII, a Coroa Portuguesa controlou a atividade eclesiástica na colônia por meio do padroado. Arcava com o sustento da Igreja e impedia a entrada no Brasil de outros cultos, em troca de reconhecimento e obediência. O Estado nomeava e remunerava párocos e bispos, concedendo licença para construir igrejas

 

 

Características de um período de rápido desenvolvimento dos povoados de extração aurífera no interior brasileiro, as Irmandades Leigas dispunham freqüentemente de centenas de circunscritos, homens e mulheres, negros e brancos, das mais variadas classes e posições sociais. Eram fundamentais na preservação da cultura da metrópole e na manutenção dos ritos e celebrações cotidianas, diante da ausência de um clero nativo e da pouca presença de sacerdotes estrangeiros frente a grande extensão territorial do país. (séculos XVII-XVIII)


É a partir do início do século XIX, com a chegada de diversas ordens e congregações religiosas e com o apoio do imperador do Brasil às iniciativas escolares e missionárias, que o catolicismo brasileiro vai lentamente criando sua “identidade nacional”. Acompanhando o processo de desenvolvimento agrícola e industrial, surgem empreendimentos de congregações femininas, hospitais, escolas e maternidades. E a vida das metrópoles em gestação começa a perceber uma maior presença da igreja “oficial” nos rituais cotidianos. Surgem paróquias e seminários, e o interior do país passa a conhecer novos padres e irmãos missionários.


Ao mesmo tempo em que, na Europa, a Igreja aprofunda as medidas do Concílio de Trento, cautelosa diante do modernismo, do racionalismo e da ameaça aos monarcas aliados dos Estados Pontifícios, no Brasil a miscigenação das tradições africanas e indígenas encontra terreno fértil para produzir um catolicismo de ricas festas populares e de extremo sincretismo.


Já em fins do século XIX e início do século XX com a intensa imigração italiana, alemã e espanhola, as questões “tridentinas” e a preocupação moral ocuparão o primeiro plano do ambiente católico nacional, com seu clero nativo bem estabelecido em muitos centros do país. O crescimento da influência da Maçonaria, desde o primeiro império, e de outras denominações religiosas, determinará uma agenda de medidas expressas em consonância as orientações do episcopado aos seus padres e fiéis. É com a industrialização dos grandes centros e as primeiras greves operárias que a Igreja do Brasil se debruçará sobre as questões sociais e ideológicas que permearão todo o século XX. As ideologias do trabalho, o socialismo utópico e o marxismo serão fonte constante de preocupação do episcopado, do clero e dos fiéis mais engajados.[2]


A Igreja estruturada em dioceses e paróquias torna-se uma referência social e territorial em todo o país, alimentando uma postura constante de participação nas decisões nacionais e nos debates nos grandes centros. Está presente em quase toda a nação. Surgem universidades, colégios, editoras e periódicos. Consolida-se um colégio episcopal com lideranças formadas em solo pátrio. Nos distintos períodos da vida republicana, a Igreja será sempre um vetor de coesão nacional, imprimindo sua faceta na semente de um “brasilianismo” original. A participação do laicato já não se restringe mais às Irmandades Leigas ou Confrarias. O leigo católico é motivado a participar da vida pública, através de legendas eleitorais e de associações cívicas e políticas, que encampam as diretrizes do episcopado nas questões mais cruciais do debate nacional.[3]


Em meados de 1960, com a eclosão de turbulências políticas na América Latina, a Igreja Católica atuará como protagonista em distintas frentes de mobilização social. Ora legitimando ações políticas dos governos militares, ora cerrando fileiras com a oposição destes regimes. O saldo é uma Igreja politizada, que fomentará o surgimento da teologia da libertação e a conseqüente divisão do clero brasileiro entre duas esferas de atuação eclesial.

Uma voltada para o trabalho pastoral, a chamada “opção preferencial pelos pobres”, pautada nas decisões dos colégios episcopais latino americanos, que em sua maioria imprimem uma leitura de mundo próxima da antropologia marxista. Outra esfera, menos influente no período, mas não menos ativa, manterá um discurso e uma prática voltados à dinâmica interna da própria instituição e sustentará uma aguerrida preocupação com a doutrina moral e a liturgia. Definido pelos meios de comunicação sociais e também por muitos militantes progressistas como conservador, este segmento da Igreja terá como protagonista uma pequena parcela do episcopado brasileiro, dentre eles alguns bispos opositores às mudanças pretendidas pelo Concílio Vaticano II, os chamados padres de Campos, diocese fluminense.[4]


Neste terreno de disputas acaloradas nos bastidores da Igreja brasileira, uma parcela silenciosa do clero e do laicato permanecerá fiel as orientações de Roma, aprofundando o processo de laicização das atividades eclesiais e contrapondo-se ao modelo de organização social e religiosa progressista das Comunidades Eclesiais de Base (CEB´s), amplamente difundidas pelo episcopado nacional através de seu “plano pastoral de conjunto”.


Inspiradas na reflexão proposta pela chamada “Teologia da Libertação”, e motivadas pela experiência eclesial latino-americana nas décadas que antecederam o Concílio Vaticano II, as CEB’S representaram um referencial no entendimento da dinâmica religiosa a partir de sua esfera mais visível, a esfera social, e do engajamento leigo nas estruturas eclesiais. Oriunda das camadas mais pobres da população, a expansão das comunidades amparou-se na sedimentação de um discurso de classe e uma plataforma social e política extremamente transformadora. Frutos desta perspectiva são a fundação do Partido dos Trabalhadores em 1980 e o surgimento de inúmeros movimentos populares em defesa da reforma agrária e urbana.[5]


No entanto, a partir da década de 90 um novo tipo de organização social começou a chamar a atenção dos pesquisadores do fenômeno religioso. Movimento dos Focolares, Comunhão e Libertação, Schöenstatt, Caminho Neocatecumenal, Regnum Chisti.... Nomes estranhos que passam a significar uma grande novidade dentro da Igreja. E alimentados pela “renovação do Espírito”, movimentos de inspiração carismática também brotam em todo o país: Canção Nova, Toca de Assis, Comunidade Shalom, Comunidade da Aliança...

Diferenciando-se dos católicos tradicionalistas contrários ao Vaticano II e suas mudanças litúrgicas e conceituais, e opondo-se frontalmente ao liberalismo moral e ao engajamento político promovido pelos segmentos mais progressistas do clero, os movimentos eclesiais apresentam em comum a proposta de uma vivência da fé cotidiana e simples, de fácil acesso ao leigo instruído, em que a santificação no mundo, “sem fugir dele”, são os elementos centrais de sua ascese cotidiana.

Apesar dos percalços das últimas décadas, a Igreja Católica no Brasil segue ocupando o posto de maior grupo religioso do país, com cerca de 155 milhões de fiéis declarados, ou 74 por cento da população. Trazida por missionários que acompanharam os primeiros colonizadores portugueses no início do século XVI, tornou-se desde então a religião majoritária.Pode-se dizer que é a instituição com maior presença política, social e cultural da história do país.

CNBB

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) foi criada em 14 de outubro de 1952, na cidade do Rio de Janeiro. Em 1977, transferiu-se para a capital da república, Brasília (DF). Pertencem à CNBB todos os Bispos Diocesanos do Brasil e os que são a eles equiparados pelo direito, como os Bispos Coadjutores, os Bispos Auxiliares e outros Bispos titulares que exercem no mesmo território algum encargo especial, confiado pela Santa Sé ou pela Conferência dos Bispos.

O organismo tem por missão e finalidade aprofundar a comunhão dos Bispos brasileiros através do estudo dos assuntos de interesse comum da Igreja no país, visando o aprimoramento de sua ação pastoral e de seu ministério. Além disso, cumpre e delibera em matérias de sua competência, manifestando solicitude pela Igreja Universal, através da comunhão e colaboração com a Santa Sé e com as outras Conferências Episcopais. Através de sua estrutura e do relacionamento com a Nuciatura Apostólica, estabelece canais de articulação com os poderes públicos e civis.

A Conferência Nacional do Bispos do Brasil organiza-se através de uma Presidência, uma Assembléia Geral, de Conselhos Regionais e um Conselho Permanente. Fazem parte também desta estrutura Comissões Episcopais Específicas, Organismos Vinculados e diversas Assessorias Nacionais. Maiores informações em www.cnbb.org.br

*Doutor em Psicologia e professor de História do Seminário Propedêutico Nossa Senhora Assunção

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[1]Dados e estatísticas disponíveis em http://pt.wikipedia.org/wiki/P%C3%A1gina_principal. Outras informações in: www.acidigital.com e www.pime.org.br/missaojovem/mjhistoria.htm
[2] Sobre o desenvolvimento do catolicismo no Brasil, consultar:
BENEDETTI, Luiz Roberto. Templo, Praça, Coração: A Articulação do Campo Religioso Católico. Tese de Doutoramento em sociologia. São Paulo, FFLCH-USP, 1988.
CAMARGO, Candido Procópio Ferreira. Católicos, Protestantes, Espíritas. Petrópolis, Vozes, 1973.
MAINWARING, Scott. Igreja Católica e Política no Brasil: 1916-1985. São Paulo, Brasiliense, 1989.
PRANDI, Reginaldo. Catolicismo e Família: Transformações de uma ideologia. São Paulo, Brasiliense e Cebrap, 1975.
_________________. Um sopro do Espírito. São Paulo, EDUSP e FAPESP, 1997.
TORRES-LONDOÑO, Fernando. Paróquia e Comunidade no Brasil: perspectiva histórica. São Paulo, Paulus, 1997.
[3] AZZI, Riolando. Ordens e Congregações na formação social brasileira. In.: Temas Brasileiros, nº 02: A Igreja Católica no Brasil, Fé e Transformações.(edição especial da revista História Viva). São Paulo, Duetto, 2005, pg. 61.
[4] Sobre o desenvolvimento do tradicionalismo católico e a polêmica dos padres de Campos, consultar:
AZZI, Riolando. A Neocristandade: um projeto restaurador. História do pensamento católico no Brasil, vol. 5. São Paulo, Paulus, 1994.
CHALET, Jean-Anne. Lefebvre, o Bispo Rebelde. Rio de Janeiro, DIFEL, 1977.
DIP, Ricardo Henry. Monseigneur Marcel Lefebvre: rebelde ou católico? São Paulo, O Expresso, 1977.
PINTO, Sobral. Teologia da Libertação: o materialismo marxista na teologia espiritualista. Rio de Janeiro, Editora Lidador, 1984.
[5] Sobre CEB’S consultar:
BOFF, Leonardo. Novas Fronteiras da Igreja: o futuro de um povo a caminho. Campinas, Verus, 2004.
_____________. Eclesiogênese. As CEBS reinventam a Igreja. Petrópolis,Vozes, 1976.
GUTIÉRREZ, Gustavo. Beber no próprio poço: Itinerário espiritual de um povo. Petrópolis, Vozes, 1984.
PINTO, Sobral. Op. Cit.

Leia mais:
Breve História da Arquidiocese de São Paulo

Fonte: http://www.visitadopapa.org.br/


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