O
folclore inclui
as criações
e invenções
culturais
que nascem
do povo coletivamente.
No Brasil,
a variedade
de povos e
tradições
e a grande
extensão
do território
contribuíram
para a riqueza
do folclore
nacional.
Folclore
e cultura
popular.
A palavra
"folclore"
vem do inglês
folk, "povo",
e lore, "sabedoria".
Assim, a definição
mais simples
de folclore
é "sabedoria
popular".
O que vem
a ser isso?
A sabedoria
popular, de
modo geral,
são
os conhecimentos
de informações,
histórias
e tradições
que passam
de geração
para geração
e que são
do "domínio
público".
Ou seja, aquilo
que é
conhecido
por todos
ou quase todos
em um determinado
grupo ou povo,
sem qual se
possa dizer
exatamente
quem os criou
ou inventou.
O
uso da palavra
folclore foi
proposto pela
primeira vez,
na Inglaterra,
no século
XIX, para
designar aquilo
que muitos
chamavam de
"literatura
oral":
as lendas,
histórias,
ensinamentos,
provérbios
etc. que não
estão
registrados
nos livros
nem são
ensinados
sistematicamente
nas escolas
ou outras
instituições,
mas são
transmitidos
de pessoa
para pessoa,
de pai para
filho.
Com
o tempo, a
idéia
de folclore
se ampliou,
passando a
dizer respeito
não
só
à literatura
oral, mas
também
a outros aspectos
da cultura.
Assim, para
entender o
folclore,
é preciso
ter uma noção
do que é
cultura.
Em
geral, no
uso comum,
o conceito
de cultura
está
associado
ao que se
aprende nos
livros, às
obras de arte,
à ciência,
aos costumes
"refinados"
e "educados".
Mas para quem
estuda a sociedade
humana, cultura
tem um significado
bem mais amplo
— diz
respeito a
tudo aquilo
que é
criado ou
transformado
pelo homem.
A idéia
de cultura
se opõe
à de
natureza.
Isso não
quer dizer
que haja uma
separação
total entre
uma e outra:
na verdade,
a cultura
influi sobre
a natureza,
e vice-versa.
Por
exemplo: vegetais
como o arroz
e o feijão
pertencem
ao reino da
natureza;
não
foram criados
pelo homem
e podem crescer
sem a influência
humana. Mas
o cultivo
do arroz ou
do feijão,
como o de
vários
outros produtos,
é uma
atividade
humana, assim
como o preparo
de diferentes
pratos com
esses alimentos.
A
linguagem
humana é
um fenômeno
natural, pois
as pessoas
já
nascem com
a capacidade
de se comunicar
por meio das
línguas
faladas pela
humanidade.
Mas é
também
um fenômeno
cultural por
excelência,
pois só
é aprendida
e praticada
na vida social.
Outro exemplo
é o
corpo humano,
um organismo
animal sujeito
a leis biológicas
e físicas.
Mas a maneira
como o corpo
é usado,
tratado e
valorizado
pode variar
muito, de
acordo com
o lugar e
a época.
Pode-se
dizer, portanto,
que o conceito
de cultura
está
ligado a todos
os aspectos
da vida humana.
Os modos como
o homem se
comunica,
trabalha,
se alimenta,
se veste,
mora e se
casa; os jogos,
as cerimônias,
as músicas,
as danças,
as crenças
em seres sobrenaturais
— tudo
isso e muito
mais está
ligado à
idéia
de cultura.
Alguns
estudiosos
preferem classificar
separadamente
os vários
aspectos da
vida em sociedade.
Os fenômenos
econômicos
seriam aqueles
especificamente
ligados às
atividades
de sobrevivência,
de produzir
e distribuir
os produtos
necessários
à vida.
Os fenômenos
sociais estariam
ligados à
maneira como
a sociedade
se organiza
(famílias,
grupamentos,
tribos, aldeias,
classes etc.)
e como as
pessoas se
relacionam
entre si.
Os fenômenos
políticos
teriam a ver
com a maneira
como o poder
é exercido
e com os conflitos
que surgem
entre indivíduos
ou grupos.
Nesse
tipo de divisão,
os fenômenos
culturais
seriam aqueles
onde predominam
a expressão
e a comunicação
através
de símbolos.
Música,
dança,
enfeites e
obras de arte,
lendas e rituais
(religiosos
ou não)
podem ter
alguma função
prática,
mas são,
principalmente,
uma forma
como as pessoas
expressam,
como representam,
para si mesmas
e para outras,
aquilo que
são
ou como sentem
ou encaram
a vida. É
através
dos símbolos
e manifestações
culturais
que as pessoas
se vêem
e reconhecem
umas às
outras como
participantes
de um mesmo
grupo ou comunidade.
Essas
divisões
entre fenômenos
econômicos,
sociais, políticos
e culturais
não
têm
muita utilidade
quando se
estudam sociedades
menores e
mais simples.
No entanto,
são
úteis
quando se
quer estudar
sociedades
complexas
como a que
se formou
na Europa
e se espalhou
pelo mundo
a partir do
século
XVI. E nesse
tipo de sociedade,
em que a escrita
e o registro
de informações
(imprensa,
discos, filmes,
televisão,
computadores)
são
muito difundidos,
que faz sentido
falar em cultura
popular.
Nas
sociedades
sem escrita
e entre as
populações
analfabetas
(que formavam
a maioria
da humanidade
até
bem pouco
tempo atrás),
a transmissão
de conhecimentos,
informações
e outros elementos
culturais
se dava através
do contato
direto, de
comunicação
oral. Nesses
grupos e sociedades
sem escrita,
as variações
sociais eram
ou são
relativamente
pequenas e
os costumes,
práticas
e tradições
quase não
variavam dentro
do grupo.
A
escrita permitiu
à humanidade
acumular um
número
cada vez maior
de conhecimentos;
além
disso, o progresso
e a especialização
técnica,
bem como o
aumento das
variações
sociais e
econômicas
entre os vários
grupos de
uma mesma
sociedade,
fizeram surgir
diferenças
bem acentuadas
entre o que
todos ou quase
todos praticam
e o que só
é acessível
a algumas
pessoas. Em
outras palavras:
nas sociedades
modernas e
com escrita,
surgiu uma
variação
considerável
entre a cultura
tida como
mais "refinada"
ou "erudita"
e a cultura
popular (que,
na verdade,
também
pode ser bastante
refinada).
Entretanto,
é importante
lembrar que
com a alfabetização
da maioria
da população
e com os meios
de comunicação
modernos,
o "povo"
pode ter acesso
a várias
criações
da cultura
erudita e
"absorvê-las"
ou assimilá-las.
Por outro
lado, muitos
artistas dedicados
à cultura
"erudita"
inspiram-se
em criações
populares
ou folclóricas.
Assim, as
fronteiras
entre o "erudito"
e o "popular"
não
são
muito rígidas.
Podemos
estabelecer
também
uma diferença
entre cultura
popular e
folclore.
A cultura
popular inclui
todas as criações,
manifestações
e símbolos
que se podem
observar na
vida do povo;
mas é
o folclore
propriamente
dito que inclui
aquelas criações
e invenções
culturais
que nascem
do povo coletivamente.
Por exemplo,
uma canção
ou uma história
popular tem
data, local
e autor ou
autores conhecidos.
Uma música
ou uma lenda
folclórica,
por outro
lado, é
aquela que,
mesmo tendo
sido composta
por alguém,
já
circulou tanto
e foi tão
modificada
pelo povo
que não
se pode dizer
que pertença
ou seja a
expressão
de uma pessoa
ou autor determinado.
Quem compôs
Atirei o pau
no gato, ou
Se essa rua
fosse minha?
Quem "escreveu"
as histórias
da carochinha?
Quem teve
a idéia
de que beber
no mesmo copo
de outra pessoa
permite conhecer-lhe
os pensamentos?
Quem "inventou"
ou imaginou
o saci e o
bicho-papão?
Tudo isso
são
criações
populares,
anônimas,
que se vão
modificando
lentamente,
mas sem perder
sua essência.
Diz-se em
geral que
o folclore
traduz a "alma"
e o caráter
de um povo.
Um
último
esclarecimento:
assim como
tantas outras
áreas
de estudos,
folclore designa
tanto os fatos
e fenômenos
observados
e estudados
(as festas,
lendas, músicas
etc.), quanto
a disciplina
que se dedica
ao estudo
desses fatos.
Aspectos
gerais do
folclore brasileiro.
O
folclore brasileiro
é muito
rico e variado.
Dois fatos
contribuíram
para essa
riqueza: primeiro,
a grande extensão
do território
do país,
com paisagens
naturais diferentes
(climas, relevo,
tipos de vegetação
etc.). Como
as atividades
humanas em
parte se adaptam
às
condições
ecológicas
e aos recursos
naturais de
cada lugar,
desenvolveram-se
atividades
econômicas
distintas
em diferentes
regiões
do país.
Essas atividades
ajudaram a
caracterizar
diversos tipos
de vida e
cultura.
Assim,
por exemplo,
nas regiões
costeiras,
a pesca marinha
fez surgir
não
só
certos hábitos
alimentares,
de moradia,
vestimenta
etc., como
também
fez com que
o mar e os
animais marinhos
aparecessem
como um dos
temas dominantes
das lendas
e crenças
e histórias
contadas pela
população
local.
As
regiões
do Brasil
onde se formaram
elementos
folclóricos
distintos
são:
a)
o litoral
(no Nordeste,
a Zona da
Mata), onde
a agricultura
se desenvolveu
e onde tiveram
máxima
importância
o trabalho
e a cultura
dos escravos;
b)
a floresta
amazônica:
nela dominam
o extrativismo
vegetal, a
caça
e a
pesca fluvial;
c)
os campos
do Sul, de
Minas Gerais
e do interior
do Nordeste,
onde a vida
ligada ao
pastoreio
tem características
bastante peculiares;
d)
as áreas
do interior,
onde, a partir
do século
XVIII, o garimpo
e a
extração
de metais
e pedras preciosas
foram intensos
e a vida era
mais
nômade.
Outra
razão
para a riqueza
do folclore
brasileiro
é a
variedade
de povos e
tradições
no país.
Todo o território
era habitado
por povos
ou grupos
indígenas
(que deviam
somar alguns
milhões
de habitantes
na época
do descobrimento).
Os portugueses
que aqui se
estabeleceram
trouxeram
consigo sua
língua,
costumes e
tradições.
Além
dos europeus
e dos indígenas,
foi também
marcante a
presença
dos africanos,
trazidos como
escravos para
a lavoura
e outros trabalhos.
Folclore
brasileiro.
Festas
e comemorações
festivas dão
origem a algumas
das principais
manifestações
folclóricas
de todos os
povos. As
festas e comemorações
podem ser
religiosas
ou profanas,
mas essa divisão
não
é absoluta.
Muitas vezes
há
uma combinação
de eventos
de cunho religioso
com práticas
profanas.
No Brasil,
as comemorações
religiosas
baseiam-se
no calendário
católico,
como as festas
de santos
padroeiros.
Entre os elementos
profanos há
os temas agrícolas
ou pastoris.
Festejos puramente
religiosos
são,
por exemplo,
as procissões.
Entre as atividades
profanas podem
ser citados
jogos e brincadeiras
(muitas vezes
com consumo
de bebida
alcóolica).
Festas
religiosas.
Destacam-se
no Brasil
quatro festividades
religiosas
— o
Natal, o Divino
Espírito
Santo, o carnaval
e São
João.
Cada uma dessas
festas origina
verdadeiros
"ciclos",
ou séries
de festejos
e outras atividades,
que podem
se estender
por muitos
dias ou semanas.
Natal.
O Natal é
a festa mais
importante.
Embora seja
uma festa
eminentemente
familiar,
ao Natal estão
ligadas muitas
manifestações
folclóricas
importantes,
como as marujadas,
as congadas,
os pastoris
e os reisados.
O mais famoso
dos autos
do ciclo do
Natal é
o bumba-meu-boi.
Surgido no
Nordetes no
fim do século
XVIII, espalhou-se
por várias
partes do
Norte e Sudeste.
É uma
representação
bem-humorada
e cheia de
improvisos,
com cantos,
danças
e declamações,
da história
de um boi
(representado
por uma pessoa
fantasiada)
que morre
e ressuscita.
A platéia
participa
ativamente
da representação,
dialogando
com os personagens
da história.
Mesmo
acontecendo
na época
do Natal,
o bumba-meu-boi
perdeu os
aspectos religiosos
que originalmente
o ligavam
ao catolicismo.
No Nordeste,
na véspera
e no dia de
Reis (6 de
janeiro) era
muito popular
o reisado,
hoje quase
esquecido.
Constava de
pequenas encenações
teatrais que
culminam no
bumba-meu-boi.
Tem duas modalidades:
os ternos
e os ranchos.
O Pastoril,
realizado
na mesma época,
tem como principal
elemento as
"pastoras"
ou "pastorinhas".
Carnaval.
O carnaval
é outra
festa de grande
apelo popular.
De origem
cristã
e européia,
foi muito
influenciado
pela cultura
negra. Chamava-se
originalmente
entrudo, e
consistia
em festejos
ruidosos,
com grande
parte da população
saindo às
ruas com cantos,
danças
e algazarra.
No Rio de
Janeiro, o
carnaval foi
enriquecido
com a criação
das escolas
de samba e
os desfiles
na cidade.
Hoje em dia,
as características
folclóricas
do carnaval,
principalmente
nas grandes
cidades, estão
cedendo lugar
a outros elementos.
Manifestação
folclórica
ligada ao
carnaval é
o maracatu
(realizado
em Pernambuco
e no Ceará).
Trata-se de
um cortejo
que desfila
e dança
ao som de
tambores e
outros instrumentos
de percussão.
Sua origem
são
as cerimônias
de coroação
das rainhas
e reis negros
do Brasil
colonial.
Divino
Espírito
Santo.
Também
chamado festa
do Divino,
é comemorado
no dia do
Espírito
Santo, ou
Pentecostes,
cinqüenta
dias depois
da Páscoa.
O festejo
surgiu em
Portugal,
no início
do século
XIV, e chegou
ao Brasil
no século
XVI. As comemorações
incluem missa
cantada, procissão,
festa, leilão
de prendas,
apresentação
de autos tradicionais,
desfiles (cavalhada,
por exemplo)
etc. A folia
do Divino
é um
grupo de cantores
e músicos
que, levando
à frente
a bandeira
do Divino,
percorre as
localidades
da região,
tocando, cantando
e recitando
quadras. São
recebidos
festivamente
nos povoados
e fazendas,
recebem contribuições
para a festa
e seguem caminho
no dia seguinte.
No
dia do Divino,
uma criança
ou um adulto
é escolhido
para ser o
imperador
do Divino,
que dá
audiências
com todas
as pompas
de um verdadeiro
governante.
Tem os direitos
de monarca
e, em muitos
lugares de
Portugal e
do Brasil,
podia até
mesmo ordenar
a libertação
de presos.
É uma
festa muito
difundida
no Brasuil,
principalmente
no Sudeste
e Centro-Oeste.
São
João.
Trata-se de
outra festa
de origem
européia,
que comemora
o nascimento
do santo católico
(noite de
23 para 24
de junho),
mas à
qual se juntaram,
ainda na Europa,
muitos elementos
profanos.
É uma
festa alegre:
fogueira,
fogos de artifícios,
bebidas, comidas
e muitos jogos,
danças
e folguedos
coletivos.
Na tradição
portuguesa,
são
João
é tido
como protetor
dos namorados,
e são
inúmeras
as estrofes
e adivinhas
populares
ligadas a
namoros, noivados
e casamentos,
não
se falando
da própria
encenação
de um "casamento
da roça".
Bailados
ou danças
dramáticas.
Como o nome
diz, os bailados
ou danças
dramáticas
são
apresentações
dançadas,
com coreografia
mais ou menos
predeterminada,
que contam
ou comemoram
algum episódio
histórico
ou lendário.
Há
vários
desses bailados.
Aquele em
que se manifesta
maior influência
indígena
são
os caboclinhos,
em que pessoas
fantasiadas
de índios
encenam caçadas
e combates
ao som de
flautas e
instrumentos
de percussão.
Realiza-se
no Nordeste,
durante o
carnaval.
Outro
bailado é
a marujada,
de origem
ibérica.
Dançado
por pessoas
fantasiadas
de marinheiros
e que carregam
um navio,
representa
a chegada
de marujos
que narram
várias
aventuras
marítimas.
Importante
também
é a
congada (Norte,
Sul e centro
do Brasil),
que apresenta
elementos
originários
da África.
É uma
mistura de
cerimônia
de coroação
de reis e
rainhas negros,
de representação
de embaixadas
ou missões
diplomáticas
que participam
da coroação
e de lembranças
de feitos
guerreiros
e de lutas
heróicas
na África.
Muitos
seres imaginários
criados pela
imaginação
enriquecem
o folclore.
Na região
amazônica,
o mais famoso
é o
boto, que,
segundo a
lenda, se
transforma
num rapaz
bonito e namorador
que engravida
as moças.
É considerado
o pai das
crianças
de paternidade
ignorada.
Há
muitas crenças
e ditos populares
em torno dessa
figura.
São
muito numerosos
os seres imaginários
do folclore
de influência
indígena.
Dois exemplos
são
o boitatá
("cobra
de fogo"),
que vive no
mar ou no
rio e queima
e mata aqueles
que incendeiam
os campos,
e o curupira,
menino ou
anão
com cabelos
vermelhos
e pés
virados para
trás,
protetor das
plantas e
animais, que
espanta, mata
ou castiga
as pessoas
que se embrenham
nas matas.
De
origem européia
há
o bicho-papão,
a cuca (o
papão
ou bicho-papão
feminino),
o saci (negrinho
de uma perna
só,
chapéu
vermelho,
cachimbo na
boca e mão
furada, às
vezes considerado
maléfico,
às
vezes brincalhão),
a mula-sem-cabeça
(amante de
padre, que
se transforma
num animal
que espanta
as pessoas
e solta fogo
pelo nariz),
o lobisomem
e muitos outros.
Além
de seres fantásticos
e de lendas,
o conjunto
de informações
e conhecimentos
tradicionais,
chamados de
"sabedoria
popular"
ou "sabença",
inclui as
explicações
populares
para fatos
naturais;
as orações
(contra doenças
ou insucessos
naquilo que
se quer);
receitas práticas
e cuidados
com a saúde;
receitas mágicas
e "simpatias",
superstições
etc. Dizem
respeito a
todos os aspectos
da vida: namoro,
casamento,
nascimento,
doenças,
morte, trabalho,
alimentação,
previsão
do tempo ou
maneiras de
controlá-lo
etc. Há
também
os ditos e
provérbios
numerosíssimos.
Hoje
em dia voltou
a ser dada
atenção
especial às
receitas e
práticas
de medicina
popular, especialmente
quanto ao
uso de ervas
e raízes
com propriedades
curativas.
Percebeu-se
que muitas
dessas receitas
e práticas,
das quais
uma boa parte
foi tomada
emprestada
aos índios)
têm
fundamento
e não
são
apenas crendices.
Os
inúmeros
contos populares
são
considerados
pelos folcloristas
uma das mais
claras e profundas
manifestações
da cultura
e das características
de um povo.
Além
dos contos,
há
as adivinhações
e as anedotas.
Folguedos
e jogos.
Outro tipo
de manifestação
folclórica
diz respeito
à recreação.
São
os folguedos
e os jogos.
Os primeiros
representam
em geral uma
competição
de habilidades
ou uma luta
de duas entidades
opostas, associadas
ao bem e ao
mal, com o
confronto
entre duas
equipes. Bons
exemplos de
folguedos
são
a cavalgada,
o rodeio,
a vaquejada,
a tourada,
a carreira
de bois, a
briga de galos,
a capoeira,
o mamulengo
e o pau-de-sebo.
Os
jogos em geral
não
contam com
platéia,
envolvendo
apenas os
que os praticam,
e, ao contrário
dos folguedos,
não
têm
data marcada
(embora possam
estar condicionados
ao clima,
como os jogos
ao ar livre,
de salão
para dias
de sol ou
de chuva etc.).
Nos brinquedos,
não
há
disputa ou
competição,
enquanto nas
brincadeiras,
individuais
ou coletivas,
há
o desafio.
Alguns jogos
mais conhecidos
são:
truco, víspora,
malha, morra.
Entre as brincadeiras
e brinquedos
destacam-se:
papagaio (ou
cafifa, pandorga,
pipa), boca-de-forno,
gata-parida,
pique (esconde-esconde,
pegador, tempo-será),
cabra-cega,
cata-vento,
perna-de-pau,
rouba-bandeira,
boneca, palitinho,
pião,
estilingue
(atiradeira,
seta), peteca,
bola-de-gude
etc.
Música
e dança.
Outro grupo
muito importante
de manifestações
folclóricas
é o
das músicas
e danças.
As músicas
ou canções
folclóricas
podem ser
de vários
tipos:
a)
infantis,
ou de roda
(Pai Francisco
entrou na
roda, Eu sou
pobre, pobre,
pobre, Ciranda,
cirandinha,
Eu fui no
tororó,
O cravo brigou
com a rosa,
Teresinha
de Jesus etc.);
b)
de ninar ou
de acalanto
(Nana, neném,
que a cuca
vem pegar);
c)
cantigas de
trabalho,
cantadas durante
as tarefas
agrícolas
ou artesanais,
ou
para anunciar
e vender produtos
ou serviços
(pregões);
d)
cantos de
caráter
religioso,
entoados pela
alma dos mortos
ou em favor
de
doentes (quando
cantadas diante
do corpo de
um defunto
são
chamadas
popularmente
de incelenças).
Ainda
no campo da
música,
vale lembrar
a variedade
de instrumentos
musicais de
origem popular,
geralmente
de origem
africana ou
indígena.
Agogô,
berimbau,
atabaque,
chocalho (ganzá),
pandeiro,
reco-reco
e muitos outros.
As
danças
folclóricas
são
geralmente
classificadas
como religiosas,
profanas (de
caça,
de colheita,
de plantio
ou de fecundidade
etc.) ou guerreiras.
São
várias
as danças
folclóricas
no Brasil,
mas é
difícil
identificar
com exatidão
suas origens,
pois há
muitas misturas
e cruzamentos
de influências.
Algumas das
mais conhecidas
são
o carimbó
e o maxixe.
O maculelê,
de origem
africana,
é um
exemplo de
dança
guerreira.
Os dançarinos,
sempre homens,
entrechocam
bastões
de madeira,
enquanto cantam
e dançam,
simulando
uma luta.
A capoeira
— originalmente
um tipo de
luta —
é às
vezes praticada
também
como uma dança
ou luta estilizada,
ao som do
berimbau e
dos cantos
ritmados de
um coro formado
por outros
dançarinos-lutadores.
Cultura
material.
Um capítulo
à parte
são
a culinária
e alimentação,
bem como o
artesanato.
Para muitos
folcloristas,
esses aspectos
da cultura,
chamados de
cultura material
porque são
representados
por objetos
concretos,
não
pertencem
ao folclore
propriamente
dito. Do folclore
da alimentação
fazem parte
não
só
os pratos,
bebidas e
outras preparações,
como também
costumes culinários
e regras de
conduta nas
refeições,
além
de crendices
("misturar
manga com
leite faz
mal";
"donzela
que senta
à cabeceira
da mesa fica
sem casar")
etc.
A
origem do
artesanato
está
ligada às
atividades
próprias
de um grupo.
Os indígenas
contribuíram
com cestaria
ornamentada,
confecção
de redes,
enfeites feitos
com penas
de aves e
instrumentos
de trabalho
(como o tipiti,
com o qual
se expreme
a água
da mandioca
ralada, para
o preparo
de farinha).
No litoral
tem-se, por
exemplo, a
técnica
usada pelas
rendeiras
nordestinas;
no interior
do Nordeste,
as carrancas,
que são
grandes cabeças
de homem ou
animal, presas
na proa dos
barcos que
singram os
rios, especialmente
o São
Francisco.
Esses
poucos exemplos
dão
apenas uma
idéia
geral do folclore
brasileiro.
Cada região,
área,
lugar e grupo
compartilham
elementos
culturais
com outras
regiões,
grupos etc.,
e também
criam e preservam
seus símbolos
e criações
particulares.
Em
tempo relativamente
pequeno (em
comparação
com culturas
e tradições
africanas,
européias
e asiáticas),
formou-se
uma cultura
brasileira
que compreende
elementos
de várias
culturas mais
antigas. Nesses
poucos séculos,
o Brasil se
transformou
em um país
em grande
parte moderno,
urbano, industrial,
onde a chamada
indústria
cultural parece
não
deixar muito
espaço
para manifestações
coletivas
de caráter
folclórico.
Entretanto,
o processo
de criação
cultural popular
não
se interrompe.
Ainda que
sua influência
tenha diminuído,
muito do folclore
continua sendo
transmitido
e é
constantemente
enriquecido
por novas
experiências
e conteúdos,
embora num
processo lento,
nem sempre
aparente.
Isto porque
o folclore
e a cultura
popular —
que fazem
parte do mundo
dos contatos
pessoais diretos,
da troca de
experiência,
da expressão
coletiva —
podem conviver
com o mundo
da cultura
moderna, das
universidades,
laboratórios,
livros, televisão
e computadores.
Fonte:
Editorial
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