Família
   

Família , Disciplina e Ética
Texto de : Tania Zagury*

Em meu livro "Educar sem Culpa" discuto o papel da família como geradora da ética, enfatizando que a ela caberá, mais e mais, a cada dia que passa, a grande, a enorme responsabilidade de arcar com esta árdua, porém essencial tarefa social. Constato porém, perplexa, que esta meta se torna mais e mais difícil de ser alcançada. E por quê? Porque diariamente em cada família, em cada casa, mais e mais pessoas questionam a validade de lutar por certos objetivos que, há bem pouco tempo, jamais eram questionados. A que objetivos me refiro? Exatamente àqueles que, no seu conjunto, irão constituir a gênese da ética, a base moral dos nossos filhos.

Na maioria das vezes, os pais agem movidos pelo mais legítimo e verdadeiro desejo de acertar, de dar aos filhos o que de melhor eles têm. Nem sempre porém o conseguem. Tomemos por exemplo, a situação vivida atualmente pelos brasileiros.

Como se sentem os pais vendo tudo a sua volta desmoronar? Se grande parte de nossos dirigentes mostra-se cada vez mais corrompida e corruptível, se o valor maior que parece imperar é apenas o de acumular mais e mais bens materiais, se o respeito pelo outro parece a cada instante diminuir, se a impunidade campeia, se o justo paga pelo pecador, se a lei parece proteger os que a violam, se a honestidade é premiada com o desprezo e a desconfiança, pensam os pais, como transmitir os velhos valores aos filhos? E para quê, se perguntam. Quantas vezes por dia vemos a falta de civilidade e de respeito ocorrer?

 

 

Nos condomínios chiques os próprios moradores insistem em não observar as mínimas regras de convivência. Se o porteiro interfona para checar sobre a entrada de um visitante no prédio - norma estabelecida para todos - sempre existem alguns que sentem-se extremamente "ofendidos" e, por vezes, até destratam aqueles que, num outro momento, seriam severamente repreendidos se não fizessem o que estabeleceu-se como regra.

Nas ciclovias, o lazer - andar de bicicleta - virou conflito com os pedestres que têm que prestar muita atenção para não serem atropelados. São homens, mulheres e crianças que preferem arriscar a vida de um semelhante a diminuir a velocidade, para não perder um segundozinho de prazer pessoal. Nas praias, os jogos de bola (volei, frescobol, futebol), tão saudáveis, transformaram-se ocupando mais e mais espaço dos banhistas e ameaçando-lhes a segurança física. No trânsito - nem é bom falar - vivemos um permanente bangue-bangue: tiros são disparados contra pessoas, por simples desentendimentos ou "fechadas".

Na escola, os alunos esforçados, estudiosos e atentos são ridicularizados pelos demais que lhes colocam apelidos pejorativos como cê-dê-efe e outros. No trabalho, diferentes formas de bajulação substituem a produtividade e a seriedade como instrumento certo para promoções. Intrigas e "fofocas" são toleradas e até incentivadas como meio de "comunicação" enquanto os que agem lealmente são alijados do processo ou colocados em segundo plano.

Frente a tudo isso, os pais, repentinamente, sentem-se receosos e inseguros. Os próprios filhos são os primeiros a questionar: "só você é que faz assim!" ; "os pais da fulana deixam..."; "ah, todo mundo faz!"; "você é quadrado "; "você já era..."; "por que eu não posso, se todo mundo vai?" Junte-se a isso tudo a influência extremamente forte dos meios de comunicação de massa incentivando o consumismo e a adoção de valores materiais e imediatistas e poderemos, sem dificuldade alguma, compreender a situação em que se encontram os pais.

Preocupados em garantir um futuro para os filhos, defrontam-se com um contexto que os leva a questionar valores até então incorporados e transmitidos geração após geração, quase que automaticamente. "Será que meu filho não vai ser "o bobão" do grupo?" "Será que lhe estou dando o instrumental correto para viver nesse tipo de sociedade?" (*) Mestre em Educação, Escritora, Professor-Adjunto da UFRJ, Autora dos livros "Educar sem Culpa", "Sem Padecer no Paraíso" , "O Adolescente por ele Mesmo", "Rampa", "Encurtando a Adolescência" entre outros. E-mail: taniaz@esquadro.com.br Leia reportagem completa em Aprender OnLine - Leiam mais artigos relacionados a Educação. Excelente o site Aprendiz.

(*) Mestre em Educação, Escritora, Professor-Adjunto da UFRJ, Autora dos livros "Educar sem Culpa", "Sem Padecer no Paraíso" , "O Adolescente por ele Mesmo", "Rampa", "Encurtando a Adolescência" entre outros. E-mail: taniaz@esquadro.com.br

Leia reportagem completa em Aprender OnLine - Leiam mais artigos relacionados a Educação. Excelente o site Aprendiz. - Texto publicado na MiniWeb Educação em 2.000.

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