Festa
popular,
o carnaval
ocorre em
regiões
católicas,
mas sua
origem é
obscura.
No Brasil,
o primeiro
carnaval
surgiu em
1641, promovido
pelo governador
Salvador
Correia
de Sá e
Benevides
em homenagem
ao rei Dom
João IV,
restaurador
do trono
de Portugal.
Hoje é uma
das manifestações
mais populares
do país
e festejado
em todo
o território
nacional.
Conceito
e origem.
O
carnaval é
um conjunto
de festividades
populares
que ocorrem
em diversos
países e regiões
católicas
nos dias que
antecedem
o início da
Quaresma,
principalmente
do domingo
da Qüinquagésima
à chamada
terça-feira
gorda. Embora
centrado no
disfarce,
na música,
na dança e
em gestos,
a folia apresenta
características
distintas
nas cidades
em que se
popularizou.
O
termo carnaval
é de origem
incerta, embora
seja encontrado
já no latim
medieval,
como carnem
levare ou
carnelevarium,
palavra dos
séculos XI
e XII, que
significava
a véspera
da quarta-feira
de cinzas,
isto é, a
hora em que
começava a
abstinência
da carne durante
os quarenta
dias nos quais,
no passado,
os católicos
eram proibidos
pela igreja
de comer carne.
A
própria origem
do carnaval
é obscura.
É possível
que suas raízes
se encontrem
num festival
religioso
primitivo,
pagão, que
homenageava
o início do
Ano Novo e
o ressurgimento
da natureza,
mas há quem
diga que suas
primeiras
manifestações
ocorreram
na Roma dos
césares, ligadas
às famosas
saturnálias,
de caráter
orgíaco. Contudo,
o rei Momo
é uma das
formas de
Dionísio —
o deus Baco,
patrono do
vinho e do
seu cultivo,
e isto faz
recuar a origem
do carnaval
para a Grécia
arcaica, para
os festejos
que honravam
a colheita.
Sempre uma
forma de comemorar,
com muita
alegria e
desenvoltura,
os atos de
alimentar-se
e beber, elementos
indispensáveis
à vida.
Período
de duração.
Os dias exatos
do início
e fim da estação
carnavalesca
variam de
acordo com
as tradições
nacionais
e locais,
e têm-se alterado
no tempo.
Assim, em
Munique e
na Baviera
(Alemanha),
ela começa
na festa da
Epifania,
6 de janeiro
(dia dos Reis
Magos), enquanto
em Colônia
e na Renânia,
também na
Alemanha,
o carnaval
começa às
11h11min do
dia 11 de
novembro (undécimo
mês do ano).
Na França,
a celebração
se restringe
à terça-feira
gorda e à
mi-carême,
quinta-feira
da terceira
semana da
Quaresma.
Nos Estados
Unidos, festeja-se
o carnaval
principalmente
de 6 de janeiro
à terça-feira
gorda (mardi-gras
em francês,
idioma dos
primeiros
colonizadores
de Nova Orleans,
na Louisiana),
enquanto na
Espanha a
quarta-feira
de cinzas
se inclui
no período
momesco, como
lembrança
de uma fase
em que esse
dia não fazia
parte da Quaresma.
No Brasil,
até a década
de 1940, sobretudo
no Rio de
Janeiro, as
festas pré-carnavalescas
se iniciavam
em outubro,
na comemoração
de N. Sra.
da Penha,
crescia durante
a passagem
de ano e atingia
o auge nos
quatro dias
anteriores
às Cinzas
— sábado,
domingo, segunda
e terça-feira
gorda. Hoje
em dia, tanto
em Recife
(Pernambuco),
quanto em
Salvador (Bahia),
o carnaval
inclui a quarta-feira
de cinzas
e dias subseqüentes,
chegando,
por vezes,
a incluir
o sábado de
Aleluia.
Carnaval
no Brasil.
Nem um décimo
do povo participa
hoje ativamente
do carnaval—
ao contrário
do que ocorria
em sua época
de ouro, do
fim do século
XIX até a
década de
1950. Entretanto,
o carnaval
brasileiro
ainda é considerado
um dos melhores
do mundo,
seja pelos
turistas estrangeiros
como por boa
parte dos
brasileiros,
principalmente
o público
jovem que
não alcançou
a glória do
carnaval verdadeiramente
popular. Como
declarou Luís
da Câmara
Cascudo, etnólogo,
musicólogo
e folclorista,
"o carnaval
de hoje é
de desfile,
carnaval assistido,
paga-se para
ver. O carnaval,
digamos, de
1922 era compartilhado,
dançado, pulado,
gritado, catucado.
Agora não
é mais assim,
é para ser
visto".
Entrudo. O
entrudo, importado
dos Açores,
foi o precursor
das festas
de carnaval,
trazido pelo
colonizador
português.
Grosseiro,
violento,
imundo, constituiu
a forma mais
generalizada
de brincar
no período
colonial e
monárquico,
mas também
a mais popular.
Consistia
em lançar,
sobre os outros
foliões, baldes
de água, esguichos
de bisnagas
e limões-de-cheiro
(feitos ambos
de cera),
pó de cal
(uma brutalidade,
que poderia
cegar as pessoas
atingidas),
vinagre, groselha
ou vinho e
até outros
líquidos que
estragavam
roupas e sujavam
ou tornavam
mal-cheirosas
as vítimas.
Esta estupidez,
porém, era
tolerada pelo
imperador
Pedro II e
foi praticada
com entusiasmo,
na Quinta
da Boa Vista
e em seus
jardins, pela
chamada nobreza...
E foi livre
até o aparecimento
do lança-perfume,
já no século
XX, assim
como do confete
e da serpentina,
trazidos da
Europa.
O Zé-Pereira.
Em todo o
Brasil, mas
sobretudo
no Rio de
Janeiro, havia
o costume
de se prestar
homenagem
galhofeira
a notórios
tipos populares
de cada cidade
ou vila do
país durante
os festejos
de Momo. O
mais famoso
tipo carioca
foi um sapateiro
português,
chamado José
Nogueira de
Azevedo Paredes.
Segundo o
historiador
Vieira Fazenda,
foi ele o
introdutor,
em 1846, do
hábito de
animar a folia
ao som de
zabumbas e
tambores,
em passeatas
pelas ruas,
como se fazia
em sua terra.
O zé-pereira
cresceu de
fama no fim
do século
XIX, quando
o ator Vasques
elogiou a
barulhada
encenando
a comédia
carnavalesca
O Zé-Pereira,
na qual propagava
os versos
que o zabumba
cantava anualmente:
E viva o Zé-Pereira/Pois
que a ninguém
faz mal./Viva
a pagodeira/dos
dias de Carnaval!
A peça não
passava de
uma paródia
de Les Pompiers
de Nanterre,
encenada em
1896. No início
do século
XX, por volta
da segunda
década, a
percussão
do zé-pereira
cedeu a vez
a outros instrumentos
como o pandeiro,
o tamborim,
o reco-reco,
a cuíca, o
triângulo
e as "frigideiras".
As fantasias.
O uso de fantasias
e máscaras
teve, em todo
o Brasil,
mais de setenta
anos de sucesso
— de
1870 até início
do decênio
de 1950. Começou
a declinar
depois de
1930, quando
encareceram
os materiais
para confeccionar
as fantasias
— fazendas
e ornamentos
–, sapatilhas,
botinas, quepes,
boinas, bonés
etc. As roupas
de disfarce,
ou as fantasias
que embelezaram
rapazes e
moças, foram
aos poucos
sendo reduzidas
ao mais sumário
possível,
em nome da
liberdade
de movimentos
e da fuga
à insolação
do período
mais quente
do ano.
E foram desaparecendo
os disfarces
mais famosos
do tempo do
império e
início da
república,
como a caveira,
o velho, o
burro (com
orelhões e
tudo), o doutor,
o morcego,
diabinho e
diabão, o
pai João,
a morte, o
príncipe,
o mandarim,
o rajá, o
marajá. E
também fantasias
clássicas
da commedia
dell’arte
italiana,
como dominó,
pierrô, arlequim
e colombina
— de
largo emprego
entre foliões
e que já não
tinham razão
de ser, depois
que a polícia
proibiu o
uso de máscaras
nos salões
e nas ruas...
Aliás, desde
1685 as máscaras
ora eram proibidas,
ora liberadas.
E a proibição
era séria,
bastando dizer
que as penas,
já no século
XVII, eram
rigorosíssimas:
um proclama
do governador
Duarte Teixeira
Chaves mandava
que negros
e mulatos
mascarados
fossem chicoteados
em praça pública,
e brancos
mascarados
fossem degredados
para a Colônia
do Sacramento...
Mas, na década
de 1930, muitas
daquelas fantasias
ainda eram
utilizadas,
inclusive
com máscaras.
Entre elas
estavam as
de apache,
gigolô, gigolete,
malandro (camiseta
de listras
horizontais,
calça branca,
chapéu de
palhinha,
lenço vermelho
no pescoço),
dama antiga,
espanhola,
camponesa,
palhaço, tirolesa,
havaiana,
baiana.
Aos poucos,
os homens
foram preferindo
a calça branca
e a camisa-esporte,
até chegar
à bermuda
e ao busto
nu, mas isso
só depois
da década
de 1950; as
mulheres passaram
às fantasias
mais leves,
atingindo,
depois, o
maiô de duas
peças e alguns
colares de
enfeite, logo
o biquíni,
o busto descoberto
etc.
Bailes de
carnaval.
O carnaval
europeu começou,
na rua, com
desfiles de
disfarces
e carros alegóricos;
e, em ambiente
fechado, com
bailes, fantasias
e máscaras.
O carnaval
carioca, certamente
o primeiro
do Brasil,
surgiu em
1641, promovido
pelo governador
Salvador Correia
de Sá e Benevides
em homenagem
ao rei Dom
João IV, restaurador
do trono de
Portugal.
A festa durou
uma semana,
do domingo
de Páscoa
em diante,
com desfile
de rua, combates,
corridas,
blocos de
sujos e mascarados.
Outro carnaval
importante
foi o de 1786,
que coincidiu
com as festas
para comemorar
o casamento
de Dom João
com a princesa
Carlota Joaquina.
Mas o primeiríssimo
baile de máscaras
aconteceu
em 22 de janeiro
de 1840, no
hotel Itália,
no largo do
Rocio, no
mesmo local
em que se
ergueria depois
o teatro e
depois cinema
São José,
na praça Tiradentes,
no Rio. A
entrada custava
dois mil réis,
com direito
à ceia.
No entanto,
a voga dos
bailes carnavalescos
em casas de
espetáculos
só se generalizou
na década
de 1870. Aderiram
à moda o teatro
Pedro II,
o teatro Santana,
e aí até os
estabelecimentos
populares
entraram na
dança, no
Skating Rink,
o Clube Guanabara,
o Clube do
Rio Comprido,
a Societé
Française
de Gymnastique,
em teatros
que se alinhavam
ao lado dos
bailes públicos,
mas em área
social selecionada.
O carnaval
se alastra:
surgem "arrastados"
em casas de
família, bailes
ao ar livre,
bailes infantis
e os pré-carnavalescos,
bailes em
circos, matinês
dançantes.
Afinal, certos
bailes ganharam
fama nacional
e até internacional,
realizados
em grandes
clubes, hotéis
ou teatros:
em 1908 houve
o primeiro
dos bailes
do High-Life,
que chegaram
ao fim nos
anos 40; em
1918 iniciou-se
a tradição
do baile dos
Artistas,
no teatro
Fênix; em
1932, o primeiro
grande baile
oficializado,
o do teatro
Municipal,
abriu caminho
para muitos
outros; e
logo vieram
os do Glória,
Palácio Teatro,
Copacabana
Palace, Palace
Hotel, Cassino
da Urca, Cassino
Atlântico,
Cassino Copacabana,
Quitandinha
(em Petrópolis),
Automóvel
Clube do Brasil.
Em 1935, o
Cordão dos
Laranjas construiu
um salão,
em forma de
navio, que
"atracou"
na Esplanada
do Castelo,
e ali se realizariam
alguns dos
mais alegres
bailes de
três ou quatro
carnavais.
E enquanto
o Municipal
iniciava concursos
de fantasias
de luxo (a
princípio
só femininas,
e, depois
dos anos 50,
masculinas),
os bailes
que atraíam
multidões
eram os do
Botafogo,
Fluminense,
Flamengo,
Vasco da Gama,
América. Bem
familiares
em suas primeiras
versões, reunindo
a sociedade
abastada em
trajes de
gala, foram-se
tornando cada
vez menos
bailes de
fantasia.
Já não se
conseguia
dançar, apenas
pular, e à
casaca e ao
smoking juntavam-se
o traje-esporte
e o mulherio
semidespido.
E existiam
os bailes
gremiais como
o das Atrizes,
o Vermelho
e Negro, o
dos Pierrôs
etc.
Banho de mar
à fantasia.
Nos bailes,
as danças
variavam,
de polca,
lundu e tanguinho
a sambas,
marchinhas,
frevos, jongos
e cateretês,
com todos
os participantes
cantando,
pulando e
"fazendo cordão".
Já nos banhos
de mar à fantasia,
porém, os
foliões cantavam
a plenos pulmões
as músicas
de sua preferência
e também aquelas
que eram divulgadas
por discos
e nos coretos
municipais
animados por
bandas de
música.
Os banhos
de mar à fantasia
criaram hábito
no intervalo
entre a primeira
e a segunda
Guerra Mundial.
Os blocos
e foliões
trajavam fantasias
de papel crepom
e, após desfilarem
nas praias,
caíam na água,
tingindo-a
por horas,
pois as fantasias
de papel desbotavam
fortemente.
Havia, é claro,
outro traje
de banho,
normal, sob
aqueles carnavalescos
e efêmeros.
Batalha de
confete e
corsos. O
confete, a
serpentina
e o lança-perfume
— os
três elementos
que, entre
o início do
século e a
década de
1950 animaram
o carnaval
brasileiro
de salão —
também cooperaram
para o maior
êxito dos
corsos que
deram vida
ao carnaval
de rua. E
neste, as
batalhas de
confete constituíam
o momento
culminante.
A moda do
corso, iniciada
timidamente
logo após
a chegada
dos primeiros
automóveis,
atingiria
seus momentos
de glória
entre 1928
e a década
de 1940. Consistia
o corso numa
passeata carnavalesca
de carros
de passeio
conversíveis,
de capota
arriada, enfeitados
de panos coloridos
e bandeirolas,
conduzindo
famílias ou
grupos de
foliões que
se sentavam
não só nos
assentos mas
também sobre
a capota arriada,
sobretudo
as moças fantasiadas
de saias bem
curtas, cantando
ou jogando
serpentinas
e confetes
nos pedestres,
que se amontoavam
nas beiras
das calçadas
para vê-las
passar.
Essa gente
motorizada
brincava também
com os ocupantes
dos carros
vizinhos e,
por vezes,
com os veículos
rodando lentamente,
emendavam
o cortejo
atirando montes
de confete
e milhares
de metros
de serpentina
que enlaçavam
os carros
e se acumulavam
no asfalto
das avenidas
a cada noite.
O lança-perfume
também era
usado em profusão,
enquanto a
confraternização
com os pedestres
se ampliava
não só através
dos jatos
de lança-perfume
— o
que abria
caminho para
conhecimentos
mais íntimos,
namoricos
etc. —
como também
de caronas
momentâneas
na disputa
de músicas
entoadas por
uns e por
outros. Cada
cidade possuía
seu local
de corso,
e o do Rio
de Janeiro
ocorria, principalmente,
na avenida
Rio Branco
(antiga avenida
Central),
mas a certa
altura, em
vários carnavais
o corso se
prolongava
à avenida
Beira-Mar,
atingindo
o Flamengo
e Botafogo
até o Pavilhão
Mourisco,
no final da
praia.
Quase conseqüência
do corso —
que desapareceu
com o advento
das limusines
e carros fechados
— as
batalhas de
confete ocorriam
em locais
determinados
que possuíssem
torcidas bairristas
organizadas
ou blocos
fortes para
desenvolver
a disputa
— uma
competição
de canto,
dança na rua
e corso (nem
sempre). Nas
semanas ou
meses que
antecediam
o tríduo de
Momo, essas
torcidas ou
blocos organizavam
as festas
em que se
gastavam quilos
de confete
e serpentina,
litros de
lança-perfume,
e em que se
dava a disputa
entre as preferidas
de cada agremiação.
Tais batalhas
se prolongavam,
às vezes,
até o amanhecer,
algumas superando
a empolgação
dos dias de
carnaval "legítimo".
Pois ali se
exibiam os
blocos, os
ranchos e
os foliões
avulsos.
Blocos, ranchos,
grandes sociedades.
No carnaval
de rua era
comum o "trote"
e os blocos
de sujos.
O encontro
de blocos
resultava,
às vezes,
em batalhas
campais de
sopapos. Nos
desfiles,
entre os anos
1919 e 1939,
destacavam-se
os tradicionais
ranchos, que
desfilavam
às segundas-feiras.
Havia ainda
as grandes
sociedades,
com seus carros
alegóricos,
repletos de
mulheres bonitas,
alegorias
mitológicas,
históricas
e cívicas;
carros de
crítica política
encerravam,
no fim da
noite de terça-feira
gorda, os
festejos.
Tais agremiações
se chamavam
Tenentes do
Diabo, Pierrôs
da Caverna,
Clube dos
Democráticos,
Fenianos,
Congresso
dos Fenianos,
Clube dos
Embaixadores
etc.
A grande concentração
popular se
fazia na avenida
Rio Branco,
da Cinelândia
até a rua
do Ouvidor.
A classe média
alta preferia
as imediações
do Jóquei
Clube, entre
a avenida
Almirante
Barroso e
a rua Araújo
Porto Alegre.
Alguns levavam
seus próprios
assentos,
cadeiras e
banquinhos,
mais tarde
substituídos
por palanques
e arquibancadas
montados pela
prefeitura.
A segunda-feira
era célebre
não só pelo
desfile de
ranchos —
que usavam
fogos de artifícios
coloridos
–, mas
também porque
os freqüentadores
do baile do
Municipal
eram observados
pelo populacho,
que ia admirar-lhes
as fantasias.
A Galeria
Cruzeiro,
hoje edifício
Av. Central,
era o ponto
focal do trecho
entre a rua
São José e
a avenida
Almirante
Barroso, a
área de maior
animação dos
carnavalescos
tradicionais,
que cantavam
e dançavam
ao som das
músicas lançadas
nos palcos
dos teatros
de revista
e nas emissoras
de rádio.
Escolas de
samba. As
"escolas de
samba" nasceram
de redutos
de diversão
das camadas
pobres da
população
do Rio de
Janeiro, em
sua quase
totalidade
negros. Reuniam-se
para cultivar
a música e
a dança do
samba e outros
costumes herdados
da cultura
africana,
e quase sempre
enfrentavam
ostensiva
repressão
policial.
Para a formação
desses redutos
contribuiu
decisivamente
a migração
de populações
rurais nordestinas,
que, atraídas
para a capital
em fins do
século XIX,
introduziram
um mínimo
de organização
e de sentido
grupal ao
carnaval carioca,
até então
herdeiro do
entrudo português.
No
entanto, a
denominação
"escola" só
vai surgir
em 1928, com
a criação
da Deixa Falar,
no bairro
do Estácio.
Ismael Silva
(1905-1978),
seu fundador,
explicava
o termo como
decorrência
da proximidade
da Escola
Normal, no
mesmo bairro,
o que fazia
os sambistas
locais serem
tratados de
"professor"
ou "mestre".
Posteriormente
surgem diversas
outras escolas,
entre as quais
Portela, Mangueira
e Unidos da
Tijuca. No
começo, pouco
se distinguiam
dos blocos
e cordões,
com ausência
de sentido
coreográfico
e sem qualquer
caráter competitivo.
Com o tempo,
transformam-se
em associações
recreativas,
abertas, cuja
finalidade
maior é competir
nos desfiles
carnavalescos,
transformados
em atração
máxima do
turismo carioca.
De tal forma
agigantam-se,
que seus encargos
— a
partir da
década de
1960 —
equivalem
aos de uma
empresa, o
que as obriga
a funcionar
por todo o
ano, promovendo
rodas de samba
e "ensaios"
com entrada
paga, maneira
de amenizarem
os gastos
decorrentes
da preparação
dos desfiles.
Com a oficialização
dos desfiles,
a partir de
1935, as escolas
passam a receber
subsídios
da prefeitura,
transformando-se,
a partir de
1952, em sociedades
civis, com
regulamento
e sede, elegendo
periodicamente
suas diretorias,
inclusive
um diretor
de bateria,
que comanda
os instrumentos
de percussão,
e um diretor
de harmonia,
responsável
pelo entrosamento
de canto e
orquestra.
A escola desfila
precedida
de um abre-alas
(faixa que
pede passagem
e anuncia
o enredo)
e da comissão
de frente
(dez a quinze
sambistas,
representando
simbolicamente
a diretoria
da escola).
A seguir,
pastoras (antigas
dançarinas
dos ranchos),
fazendo evoluções;
mestre-sala
e porta-bandeira;
destaques;
academia (coro
masculino
e bateria).
O restante
divide-se
em alas, geralmente
com coreografias
especiais,
e carros alegóricos.
Apresentam
sempre um
tema nacional
— lenda
ou fato histórico
— expresso
no samba-enredo,
base de todo
o desfile.
Até 1932,
quando foi
organizado
o primeiro
desfile, as
escolas limitavam-se
a percorrer
livremente
as ruas, acompanhadas
por populares.
Naquele ano,
o jornal Mundo
Esportivo
organizou
um desfile
na praça Onze,
de que participaram
dezenove escolas,
saindo vitoriosa
a Estação
Primeira de
Mangueira.
No ano seguinte
o número de
concorrentes
subiu para
29 e o desfile
foi promovido
pelo jornal
O Globo, saindo
vitoriosa
novamente
a Mangueira.
Em 1934, ano
em que foi
fundada a
União Geral
das Escolas
de Samba,
a competição
foi realizada
no dia 20
de janeiro,
em homenagem
ao prefeito
Pedro Ernesto,
e a Mangueira
alcançou o
tricampeonato.
O interesse
em fomentar
a competição
com atração
turística
começou em
1935, quando
o certame
foi apoiado
pelo Conselho
de Turismo
da Prefeitura
do então Distrito
Federal, obtendo
a Portela
sua primeira
vitória, ainda
com o nome
de Vai Como
Pode. A partir
daí, já estabelecido
como promoção
oficial do
carnaval carioca,
o desfile
foi realizado
sem interrupção,
exceto nos
anos de 1938
e 1952, quando
as chuvas
impediram
a promoção.
O modelo se
estendeu a
todas as capitais
brasileiras,
excetuando-se
duas: Salvador
da Bahia e
o conjunto
Recife-Olinda,
em Pernambuco.
Carnaval
de Pernambuco
e Bahia.
O carnaval
pernambucano,
especialmente
em Olinda
e Recife,
é um dos mais
animados do
país, e essa
característica
cresceu paralelamente
à extinção
do carnaval
de rua na
maior parte
das cidades
brasileiras,
por causa
do desfile
das escolas
de samba.
As principais
atrações do
carnaval pernambucano
— cujos
bailes também
são os mais
animados —
são, na rua,
o frevo, o
maracatu,
as agremiações
de caboclinhos,
a imensa participação
popular nos
blocos (reminiscências
modernizadas
dos antigos
"cordões")
e os clubes
de frevo.
Em Recife
e Olinda os
foliões cantam
e dançam,
mesmo sem
uniformes
ou fantasias,
ao som das
orquestras
e bandas que
fazem a festa.
Os conjuntos
de frevo mais
animados são
os Vassourinhas,
Toureiros,
Lenhadores
e outros.
Lembrando,
pela cadência,
os velhos
ranchos, os
maracatus
estão ligados
às tradições
afro-brasileiras.
Já os caboclinhos
constituem
outro tipo
de agremiação
folclórica,
cujos desfiles
são apenas
vistos e aplaudidos.
A outra cidade
em que a participação
popular é
costumeira,
e onde todos
cantam, dançam
e brincam
é Salvador.
Uma invenção
surgida na
década de
1970 e que,
à diferença
do frevo,
conseguiu
contagiar
outros estados
e cidades,
foi o trio
elétrico —
um caminhão
monumental
no qual se
instalam aparelhos
de som, equipados
com poderosos
alto-falantes
que reproduzem
continuamente
as composições
carnavalescas
gravadas.
Há ainda,
como em Recife
e Olinda,
muitos populares
que improvisam
fantasias
simples mas
também adotam
a postura
galhofeira
e vestem os
disfarces
de cinqüenta
ou cem anos
atrás. Tudo
isto traduz
bem o espírito
momesco irreverente
que impele
a multidão
à descontração
total.
Músicas de
carnaval.
Durante o
império, as
músicas cantadas
no período
carnavalesco,
no Brasil,
eram árias
de operetas,
depois lundus,
tanguinhos,
polcas e até
valsas. No
início do
século XX,
predominaram,
nas ruas,
as cantigas
de cordões
e ranchos
e, nos bailes,
chorinhos
lentos, polcas-chulas,
marchas, fados,
polcas-tangos,
toadas e canções.
Logo após
a primeira
guerra mundial,
os palcos
dos teatros-de-revista
tornaram-se
os lançadores
das músicas
de carnaval
e iniciou-se,
então, o domínio
das marchinhas,
maxixes, marchas-chulas,
cateretês
e batucadas.
E também do
samba, que,
na era do
rádio, entre
1930 e 1960,
dividiu os
louros com
a marchinha,
embora às
vezes cedesse
ao sucesso
de um jongo,
de uma valsa
ou de uma
batucada.
O samba, nos
salões e na
rua, era absoluto.
Mas desde
fins do decênio
de 1960, com
a consolidação
do desfile
das escolas
de samba,
o samba e
a marcha mergulharam
no ostracismo,
trocados pelo
samba-enredo
das escolas
de samba.
Pesquisas
Barsa
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