Contos e lendas do Japão
   

1 - "Nanatsu no ko", ou sete crianças (curiosidade)

Em Tokyo, todo dia toca uma mesma música em algum ponto do bairro. Como era dia útil, no início ficou a curiosidade para saber se ia tocar no fim-de-semana. Bem, tocou no fim-de-semana. Aí percebi que também tocava nos feriados, festas. Não havia jeito, programaram aquilo para tocar até em nevasca.

Se tinha significado, não sabia. Nem por que tocavam, nem de onde vinha. Dependendo do lugar em que eu estava, a música tocava em dois lugares ao mesmo tempo. Desconfiava que vinha de alguma escola local, pois só escolas têm sinal. Mas as aulas terminam às 3 e meia da tarde no Japão. Não podia ter relação com atividade escolar porque toca nas férias escolares também.

A música toca também tão alto que cheguei a pensar se não atrapalhava os vizinhos. Mas era interessante. Por que tocam essa música todo santo dia? "Um dia," eu dizia com meus botões, "vou gravar essa música e levar para o Brasil!"

Esse dia chegou. Num domingo ensolarado de inverno, preparei a câmera filmadora e fui de bicicleta procurar a fonte sonora. Surpresa. Não é que a música tocou enquanto estava a caminho?

Ver vídeo e áudio da fonte sonora.

Não demorou muito, enfim descobri o mistério que envolve a música.

A música se chama "Nanatsu no ko", ou sete crianças. É uma canção de ninar japonesa. Ela toca às 4 e 30 da tarde para avisar as crianças que é para elas voltarem para casa. Isso faz sentido porque a música só toca nesse horário no outono e no inverno, quando escurece cedo. É por isso que toca todos os dias: o inverno não deixa de ser inverno fora dos dias da semana ou feriados.
Na primavera e no verão, quando escurece mais tarde, tocam uma outra música às 5 e meia da tarde.

Na verdade, as sete crianças são sete passarinhos (corvos ou karasu em japonês). A canção diz: "Por que canta mãe corvo?" Ela responde que está voando para a montanha onde suas sete crianças estão sozinhas. Por isso ela canta "kawaii, kawaii" (são lindas, são lindas!). Ouça a música clicando no botão acima.

 

 

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2 - A origem da estrela-do-mar - Lenda da provincia de Okinawa

Uma antiga lenda da província de Okinawa conta que, certa vez, o Deus estrela polar e a Deusa cruzeiro do sul resolveram trazer vida para a terra. Então, quando a Deusa cruzeiro do sul estava pronta para dar à luz, ela perguntou ao Deus Poderoso do céu onde poderia ter seus bebês.

O Deus poderoso do céu olhou para a terra e avistou uma pequena ilha chamada Taketomi-jima, onde existia, ao sul, um belo mar de coral. Então, ele disse à deusa Cruzeiro do Sul : – Vá ao lado sul de Taketomi-jima, pois lá existe uma praia com águas mornas e ondas mansas, isso será muito bom para seus bebês.

Assim, a Deusa cruzeiro do sul desceu da alta planície celeste e dirigiu-se à ilha, conforme sugerira o deus poderoso do céu. Lá chegando, deu à luz a várias estrelinhas cintilantes. A Deusa estava muito feliz, pois realmente aquela praia tinha a água morna e uma temperatura perfeita para que suas filhas pudessem passar os primeiros anos de suas vidas.

– Assim que crescerem, elas subirão a alta planície celeste para se encontrar comigo e viveremos cintilantes no céu.disse a Deusa retornando ao seu lugar.

Entretanto, o deus sete dragões do mar ficou irritado, porque a Deusa cruzeiro do sul não lhe pediu permissão e usou a praia para parir seus filhos. Ele então chamou uma das suas serviçais, a dona serpente gigante, e ordenou:

– Não admito que ninguém dê à luz em meu oceano sem minha permissão. Vá e devore todos os bebês que encontrar na região sul da ilha.

A dona Serpente Gigante, obediente à ordem de seu amo, engoliu todos os bebês da Deusa cruzeiro do sul com sua enorme bocarra, matando-os todos. Em seguida, cuspiu seus corpos.

As estrelinhas mortas flutuaram no mar até alcançarem uma praia chamada Higashi Misaki, no lado leste da ilha Taketomi. As estrelinhas, empurradas pelas ondas, pararam na praia e ficaram com o corpo salpicado de areia. Nessa localidade, havia um santuário onde vivia a semideusa Amável. Quando encontrou as estrelinhas sem vida, Amável sentiu muita pena delas e levou-as para o santuário.

- Oh! Pobres estrelinhas, vou colocá-las no incensório. Assim, quando os aldeões vierem me trazer oferendas durante o festival e queimarem os incensos, suas almas poderão subir ao céu junto à fumaça. Lá, na Alta Planície Celeste, poderão reencontrar sua mãe.

Conforme a semideusa amável planejou, quando chegou o dia do festival, os aldeões queimaram muitos incensos e as almas dos bebês-estrelas subiram ao céu levadas pelas fumaças.

Esta é a origem lendária da estrela-do-mar. Em Taketomi-jima, apesar de séculos terem se passado, ainda hoje é possível encontrar estrelas-do-mar com corpos salpicados de areia nas belas praias que ficam ao sul da ilha de Okinawa. Elas são conhecidas como Hoshi-suna (estrelas de areias), nome que nasceu em referência a esta lenda.

Fonte : http://nipocultura.blogspot.com/

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