Geração
Google
Deu
na Folha de São Paulo:
Geração
Google, Net Generation, Nativos Digitais - há
muitos nomes para quem não se lembra
do mundo pré-internet. Mas, apesar do
sucesso do rótulo, a idéia de
que a Geração Google tem facilidades
especiais para lidar com a informação
virtual não passa de mito.
É
o que afirma o estudo "Comportamento Informativo
do Pesquisador do Futuro", liderado por
Ian Rowlands, da University College de Londres.
De acordo com ele, o uso da internet é
superficial, promíscuo e rápido,
e respostas com pouca credibilidade encontradas
por ferramentas de busca como Google ou Yahoo
prevalecem. "Acadêmicos mais jovens
não estão usando conteúdo
de bibliotecas de uma maneira séria.
Usam o Google, porque é mais conveniente.
Isso vai limitar seus horizonte de pesquisa",
afirmou Rowlands à Folha, por telefone,
de Londres.
A
pesquisa define como Geração Google
os nascidos depois de 1993. Ela foi feita pela
revisão de estudos já publicados
sobre mecanismos de busca e análise de
informação, associando-os com
dados sobre como o público usa hoje sites
como o da Biblioteca Britânica.
Rowlands
afirma que ficou rapidamente claro que não
é possível generalizar as crenças
sobre habilidades da Geração Google.
Até a idéia de que jovens gastam
mais tempo on-line do que os mais velhos foi
relativizada. Mas foram detectadas tendências
preocupantes. "A sociedade está
emburrecendo", diz o estudo. "Passam
os olhos por títulos, índices
e resumos vorazmente, sem leitura real".
E o comportamento ultrapassa a barreira da idade.
"Até professores, que supostamente
teriam meios mais sofisticados para buscar e
analisar informações, mostram
as mesmas tendências", afirma o pesquisador.
O
estudo vê uma possível ameaça
às bibliotecas. "Meu instituto gasta
uns US$ 4 milhões por ano em publicações
acadêmicas, mas os alunos preferem ferramentas
simplistas. É frustrante", diz Rowlands.
Na
era da enciclopédia
No Brasil, acadêmicos ouvidos pela Folha
divergem sobre as conclusões da pesquisa.
Para Renato Rocha Souza, do Departamento de
Organização e Tratamento da Informação
da Universidade Federal de Minas Gerais, é
mesmo problemática a primazia do Google
em atividades acadêmicas. "A arquitetura
dessa ferramenta privilegia páginas mais
citadas na internet, e essa relevância
nem sempre é real", diz. Para ele,
"alunos não sabem distinguir um
site de artigos acadêmicos do "blogue
do joãozinho'". "E não
têm pudor em citá-lo. Falta juízo
de valor."
Contudo,
ele não acha que a tendência tenha
surgido com a internet. "Não era
tão diferente quando pesquisávamos
nas enciclopédias. O que mudou foi a
oferta de informação", afirma.
Já Aldo Barreto, do Instituto Brasileiro
de Informação em Ciência
e Tecnologia, discorda de Rowlands. "Nunca
foi feita tanta pesquisa e de tão boa
qualidade quanto atualmente, graças à
internet , afirmou à Folha, do Rio de
Janeiro. Para Lawrence Shum, especialista em
mídias digitais da PUC de São
Paulo, "a internet tem problemas, mas está
no caminho da auto-regulação".
E
muitos vêem vantagens na busca pelo Google.
Segundo Carlos Frederico D'Andrea, coordenador
do Laboratório de Comunicação
Digital do Centro Universitário UNA,
em Belo Horizonte, "a biblioteca dá
a ilusão de que o conhecimento está
todo ali e é inquestionável".
"Na internet, o resultado é sabidamente
instável e não vai ser usado cegamente.
Mas é preciso treino adequado."
Na
Internet: Folha de São Paulo, ed. 09.fev.2008
(para assinantes) - por Andrea Murta. Itálico
e grifo acrescentados.
Fonte:
NetKids
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