O
analfabetismo funcional persiste
entre os jovens brasileiros:
15% deles não têm
habilidades de leitura e escrita
compatíveis com sua escolaridade.
Eles frequentam ou frequentaram
a escola. Mesmo os que sabem
ler e escrever têm dificuldade
para compreender textos curtos
e localizar informações,
inclusive as que estão
explícitas. Quanto à
Matemática, lidam com
os números que são
familiares, como os de telefones
e os preços, ou realizam
cálculos simples. A compreensão
do que observam ou produzem
é limitada e emperra
seu desenvolvimento pessoal
e profissional.
Essa triste condição
é parte da vida de 15%
da população brasileira
com idade entre 15 e 24 anos
que é considerada analfabeta
funcional, segundo o Indicador
de Alfabetismo Funcional (Inaf),
divulgado neste mês (veja
a evolução dos
dados nessa faixa de idade no
gráfico abaixo). Desses
jovens, 2% são analfabetos
absolutos (não sabem
ler e escrever, embora alguns
consigam ler números
familiares) e 13% são
alfabetizados de nível
rudimentar (leem textos curtos,
como cartas, e lidam com números
em operações simples,
como o manuseio de dinheiro).
O
que diz o INAF Brasil
2009
O
Indicador de Alfabetismo
Funcional revela que só
um terço dos jovens
brasileiros atingiu a
alfabetização
plena
Evolução
do indicador
População
de 15 a 24 anos.
|
|
Ilustrações:
Mario Kanno |
|
Fonte:
Instituto Paulo Montenegro/IBOPE
Recuo
demorado
Faz
quase uma década que
as habilidades para ler, escrever
e fazer cálculos são
avaliadas no Brasil e o analfabetismo
funcional persiste entre os
mais jovens. Ele já foi
22% (2001). Hoje, ainda soma
15% (2009). A julgar pelo ritmo,
a batalha para erradicá-lo
será longa.
O
índice, divulgado a cada
dois anos pelo Instituto Paulo
Montenegro (IPM), vinculado
ao Ibope, produz um retrato
fiel do domínio da leitura
e da escrita (letramento) e
da Matemática (numeramento)
da população brasileira
em geral, visto que pessoas
com até 64 anos são
entrevistadas e respondem a
testes. "É importante
que o educador entenda que até
entre os analfabetos funcionais
há níveis diferentes
de habilidades. A compreensão
da diversidade ajuda a lidar
com o problema na sala de aula",
orienta Ana Lúcia Lima,
coordenadora do IPM.
Olhar os resultados daqueles
que têm entre 15 e 24
anos é importante porque
esses são os jovens que
ocupam carteiras escolares ou
as ocuparam recentemente e,
portanto, são fruto direto
do trabalho desenvolvido nas
escolas brasileiras. O que se
vê em 2009 é uma
redução de apenas
dois pontos percentuais - exatamente
a margem de erro da pesquisa,
que é de dois pontos
para mais ou para menos - em
relação ao último
levantamento, realizado em 2007,
em que 3% dos entrevistados
estavam em condição
de analfabetismo e 14% em nível
rudimentar de alfabetismo, totalizando
17% de analfabetos funcionais.
A parcela de jovens brasileiros
que está no patamar ideal,
o de alfabetizados de nível
pleno (aqueles que leem e interpretam
textos longos e resolvem cálculos
com maior quantidade de elementos
e etapas), está longe
de ser satisfatória:
eles são apenas um terço
da população.
"Isso é o mais preocupante.
Cai o número de analfabetos
absolutos, mas o de leitores
críticos, que seriam
os alfabetizados plenamente,
não aumenta. Infelizmente,
não houve uma boa evolução
em quase uma década",
diz a professora Silvia Gasparian
Colello, da Faculdade de Educação
da Universidade de São
Paulo (USP).
O problema abrange todos
os níveis de ensino
O percentual de analfabetos
funcionais é grande,
inclusive quando se analisa
o desempenho dos entrevistados
que estudaram até a 8ª
série: 22% (veja no gráfico
abaixo). Quase um em cada quatro
brasileiros sai do Ensino Fundamental
sem saber ler e escrever bem.
Importante: nessa faixa de ensino,
os dados são os mesmos
da última pesquisa.
Indicador
por escolaridade
População
de 15 a 24 anos.
|
|
Fonte:
Instituto Paulo Montenegro/IBOPE
O
estudo ainda é
a saída
Entre os jovens que
concluíram a
Educação
básica, ou seja,
estudaram até
a 8ª série
do Ensino Fundamental,
ainda há analfabetos
funcionais. Eles somam
22% desde 2007. Porém
houve uma redução
significativa entre
os que chegaram até
a 4ª série.
|
|
A
lista de justificativas para
a persistência do analfabetismo
funcional no Brasil tende a
ser longa. Para Vera Masagão,
ela deve incluir o fato de a
maioria das escolas trabalhar
como se todos os alunos tivessem
o mesmo nível de aprendizado.
"Isso acaba empurrando
para baixo aqueles que têm
mais dificuldades e precisam
de um acompanhamento especial
para aprender."
Os dados de analfabetismo funcional
por região brasileira
(veja o gráfico abaixo)
oferecem mais uma perspectiva
para análise, pois indicam
em quais locais a escola tem
produzido estudantes limitados.
O que influi decisivamente para
a diferença no percentual
de alfabetizados em cada região
é o nível de escolarização.
Analfabetos
funcionais por região
População
de 15 a 24 anos.
|
|
Fonte:
Instituto Paulo Montenegro/IBOPE
Disparidades
pelo Brasil
Este ano, o número
de jovens analfabetos
funcionais aumentou
quatro pontos percentuais
nas regiões Norte
e Centro-Oeste. Esse
movimento é contraditório,
visto que houve redução
dos índices em
todas as outras regiões
do país, com
destaque para o Sudeste.
|
|
Está
ao alcance do educador incentivar
a leitura
As
soluções para
melhorar os resultados dos brasileiros
no Inaf, especialmente dos mais
jovens, dependem, sim, de mudanças
amplas. Entre elas, tem destaque
a atuação do professor,
que pode contribuir para alterar
essa realidade. A primeira postura
positiva está em fazer
da leitura uma tarefa diária,
importante para o aprendizado
em qualquer disciplina.
O educador pode organizar situações
simples de estímulo,
como a leitura em voz alta e
em grupo e a leitura com o objetivo
de localizar dados para compará-los.
Pode, ainda, chamar a atenção
para a importância dos
resumos como prática
de estudo, ensinando as crianças
e os jovens a sublinhar e listar
as principais informações
de cada texto. "Para isso,
o educador tem de querer mais
do que ensinar os alunos a ler
e a escrever. Deve desejar formar
o sujeito leitor e escritor",
resume Silvia Colello.
Fonte:
Nova
Escola